Com o comunicador e empreendedor Ken Fujioka e a participação especial do professor e pesquisador Fábio Mariano da Silva.
O episódio #24 do almasculina” traz uma conversa com o comunicador e empreendedor Ken Fujioka (@kenfujioka @naruhodopodcast) fala sobre homens amarelos, assédio moral e sexual no mercado publicitário, rodas de homens, autoconhecimento, privilégios… Sempre relacionados à sua visão sobre as masculinidades.
O professor e pesquisador Fábio Mariano da Silva (@fabioms08) estreia como nosso convidado no “Lugares Comuns”, quadro que dá voz a especialistas, gente que pesquisa e entende muito do assunto, explicando termos, conceitos e ampliando a nossa visão sobre tópicos mais específicos.
– Ouça aqui o episódio na íntegra:
– Assista à gravação na íntegra e o LUGARES COMUNS, com o Fábio Mariano da Silva, no nosso canal no Youtube!
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ASPAS
– Artigo “Homens e Violência – O Heteroterrorismo como norma”, por Fábio Mariano da Silva, publicado na elasticaoficial.com.br
À medida que somos atravessados por um conjunto de estruturas que nos indicam a forma como devemos nos comportar a partir dos parâmetros públicos e sociais nos espaços de socialização, há aí uma regra matriz para que isso aconteça. Eu chamo de Heteroterrorismo. Enquanto a homofobia é tratada no âmbito pessoal e nos remete a causas patológicas e de cunho individual como recurso para justificar aquilo que machismo e sexismo têm imposto – o ódio às diferenças -, me utilizo do termo Heteroterrorismo como forma de não permitir que essas violências sejam jogadas para a vala comum. A violência que se pratica contra pessoas LGBTQIA+, pessoas negras, mulheres, idosos e pessoas com deficiência precisa ser nominada. E, de certa forma, ao utilizar a homofobia como a regra que contempla o todo, acaba-se mascarando violência que se cometem contra grupos específicos, invisibilizando suas diferenças dentro desse contingente que não é homogêneo.
Heteroterrorismo também me faz refletir sobre a necessidade de que o Estado seja instado como agente dessa violência praticada, porque essa regra matriz da sexualidade, do racismo e da classe atravessa a todos nós. Tratar dessa violência de maneira igual acaba por impedir que tenhamos conhecimento das opressões que se cometem de maneira específica. Além disso, é necessário barrar a pedagogia da opressão que impõe para meninos e meninas, homens e mulheres, desde os bancos escolares, e comportamentos pautados sob uma única lógica de aversão àqueles que não se enquadram e não querem se enquadrar.
(…) Quando me perguntam onde percebemos a estrutura sólida dada por esse sistema de terrorismo de gênero, digo que um breve olhar sobre os números de violência e letalidade contra pessoas negras, especialmente homens negros jovens e contra travestis, nos informam como temos praticado sistematicamente uma conivência com a não existência desses sujeitos e sujeitas. A despeito das leis que existem no país, o suborno racial e social ainda inviabiliza a vida de jovens negros, entre 15 e 29 anos, que são 75% do alvo da polícia, e de travestis que têm a expectativa medida de vida em torno de 35 anos, muito abaixo da média nacional que é de 75 anos. Essas vidas tem sido depositárias das políticas do estado que norteiam a escassez de recursos e nunca respondem à pergunta: por que não podemos viver”.
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– Ken Fujioka indicou:
Série “Brooklyn Nine-Nine” (2013-19), de Phil Augusta Jackson:
O brilhante e imaturo detetive Jake Peralta precisa aprender a seguir as regras e trabalhar em equipe quando um capitão exigente assume o comando de seu esquadrão e Jake precisa aprender a trabalhar em equipe. Disponível na Netflix.
Série “Atlanta” (2016), criada e estrelada por Donald Glover:
Earnest Earn Marks sai da faculdade para virar o agente da carreira de súbito sucesso de seu primo. Porém, os dois discordam em diversos pontos sobre a divisão entre arte e entretenimento no hip-hop. Disponível na Netflix.
Filme “Billy Elliot” (2000), de Stephen Daldry:
A vida de um menino, filho de mineiro, muda quando ele assiste a uma aula de balé. O garoto que tem um talento natural para a dança fica dividido entre sua inesperada paixão e os problemas de sua família, que é contra sua nova atividade. Disponível no Looke.
Filme “Moonlight – Sob a Luz do Luar” (2016), de Barry Jenkins:
Black trilha uma jornada de autoconhecimento enquanto tenta escapar do caminho fácil da criminalidade e do mundo das drogas de Miami. Encontrando amor em locais surpreendentes, ele sonha com um futuro maravilhoso. Disponível na Netflix.
Documentário “A Máscara em que Você Vive” (2015), de Jennifer Siebel Newsom:
Imprescindível para quem quer pensar as masculinidades, o filme traz à tona a importantíssima reflexão sobre o paradigma da educação machista, inclusive destacando quanto sofrimento ela causa aos meninos – e depois aos homens adultos –, que são pressionados a atender às expectativas da sociedade e a ser o que se considera um homem bem-sucedido. Disponível no YouTube.
TED Talks com Tony Porter, “Um Chamado dos Homens”:
No TEDWomen, Tony Porter faz um pedido aos homens: Não “aja como um homen.” Contando histórias poderosas de sua própria vida, ele mostra como essa mentalidade, ensinada a muitos homens e garotos, pode levar ao desrespeito e abuso contra mulheres e contra uns aos outros. Sua solução: Se libertar da “caixa de macho.” Tony Porter é um educador e ativista reconhecido internacionalmente por seu esforço para acabar com a violência contra as mulheres.
Documentário “O Silêncio dos Homens” (2019), dir. audiovisual de Luiza Castro e Ian Leite / uma iniciativa Papo de Homem:
O filme é parte de um projeto que ouviu mais de 40mil pessoas em questões a respeito das masculinidades e desembocou num documentário e num livro-ferramenta baseado nesse estudo com dados públicos por meio de um convênio com o Consórcio de Informações Sociais (CIS) da USP. Disponível no Youtube.
Curta de animação “Purl” (2018), de Kristen Lester:
Purl é um curta de animação em computador americano de 2018 dirigido e escrito por Kristen Lester com a história de Michael Daley, Bradley Furnish, Lester e James Robertson, produzido pela Pixar Animation Studios e distribuído pela Walt Disney Studios Motion Pictures. Disponível no YouTube.
– Paulo Azevedo indicou:
Série “The Office”, de Ricky Gervais, na versão americana protagonizada por Steve Carrell:
Uma das comédias britânicas mais populares de todos os tempos, resultou em uma franquia internacional que inspirou uma versão americana igualmente bem-sucedida, se não mais. Michael Scott é um gerente impetuoso e imaturo de uma pequena empresa que lidera a equipe do documentário, que dispara comentários obscenos, racialmente insensíveis e descaradamente ignorantes, além de comportamentos inapropriados e inúmeras técnicas pobres de gerenciamento. Disponível na Amazon Prime Video.
Filme “Two/One” (2019), de Juan Cabral:
Kaden é um saltador de esqui de classe mundial no Canadá, ansiando por um amor perdido. Khai é um executivo corporativo em Xangai, atraído por um novo colega de trabalho com um segredo. Os dois homens vivem suas vidas, sem saber que estão conectados. Você já sentiu que há alguém lá fora, do outro lado do mundo, que sente como você se sente? O filme de estreia hipnotizante do premiado diretor de publicidade Juan Cabral explora os fios invisíveis que nos conectam, encontrando uma poderosa metáfora para o estranho planeta globalizado em que habitamos. Disponível no Mubi.
Filme “The Boys in The Band” (2020), de Joe Mantello:
É a 2a adaptação para as telas da peça homônima que estreou na Broadway, em 1968, escrita por Mart Crowley, que morreu esse ano. Reunidos para o aniversário do amigo, os homens vão destrinchando as tensões que eles negam existir entre si a partir da chegada de um estranho, o engravatado Alan (Brain Hutchison). O caminho para a realização de um novo filme veio depois que Ryan Murphy produziu a remontagem do texto original, em 2018; e decidiu levar a história para o Netflix usando o mesmo elenco da Broadway. A remontagem venceu o Tony de 2019 e tanto ela quanto o filme foram dirigidos por Joe Mantello. Vale ainda assistir o extra sobre o autor da peça e o contexto histórico na qual a peça e a 1ª versão para os cinemas foram realizadas: o documentário “Um Olhar Pessoal”. Ambos estão disponíveis na Netflix.
É o podcast semanal do nosso convidado, Ken Fujioka, e do cientista PhD, Altay de Souza, ideal pra quem tem fome de aprender: ciência, senso comum, curiosidades e desafios. Em especial, sugiro começar pelos episódios #23 (“Mulheres e homens têm cérebros diferentes?”) e o #84 (“O que leva uma pessoa a ser transgênero?”).
LUGARES COMUNS com o Fábio Mariano da Silva sobre “O porquê discutir sobre as masculinidades”.
Paulo Azevedo: “Por que é importante discutir as masculinidades? ”
Fábio Mariano da Silva: “As masculinidades…elas são um tema relativamente novo, digo, né, e porque que é novo, porque até então, a gente discutido ou falado em torno de um homem universal ou a gente tem discutido ou falado da perspectiva de um único modelo do que é ser homem, aquele modelo viril, competitivo, combativo, lutador, assim por diante, porque essa é uma ideia que da perspectiva histórica foi passada. Mas novas demandas políticas foram aparecendo e novos sujeitos foram se incorporando às lutas pelos direitos civis, por direitos de cidadania. E essas figuras são representadas por figuras de um modelo contra hegemônico, digamos, porque é um modelo das dissidências, da subalternidade que começam a falar, quando a gente fala de masculinidades, a gente tá falando de vários outros modelos, que são modelos em torno do homem gay, homem trans, homem gordo, homem negro, homem asiático, assim por diante, ou seja, nós rompemos ou estamos tentando romper uma barreira que se dá em torno de um padrão ou de um modelo universal pra mostrar as várias possibilidades que saiam dessa caixa, várias sexualidades, vários modelos, vários homens que vão reivindicando pra si direitos, que são direitos de cidadania. Quando a gente fala desse modelo, também, é sempre importante pensar que esse homem que a gente conhece hoje, é aquele homem que existia há muitos e muitos anos, séculos, digamos, eu sempre costumo falar isso nas minhas aulas. Esse homem que foi forjado na Revolução Francesa, como ideal de racionalidade, pensamento, de inteligência, e assim por diante, é um homem que foi se traduzindo, por quê? Por que a masculinidade, tal como a gente conhece hoje, ela era o padrão ideal da perfeição do homem que era perfeito, e que, portanto, era este modelo de homem que as nossas sociedades tinham que suportar, comportar, acordar e, assim por diante, tudo isso. Então, quando a gente vai falando dessas masculinidades e do papel importante que elas têm, elas vêm justamente para questionar esse modelo, e saber que a gente é muito mais, que uma única coisa, a gente pode sair das nossas caixas, pode sair dos nossos dos nossos limites, que foram limites compulsórios, para muitas outras possibilidades de mais liberdade, de mais afeto, mais igualdade, e assim por diante. Então, essas masculinidades elas aparecem ainda embora com muitos estudos a respeito de homens gays, homens trans, eu acho que nem tanto que se comparado de homens negros, essas masculinidades vêm para mostrar que a gente pode ser mais que um modelo único do que é ser homem. ”
almasculina é feito por:
Idealização, roteiro, edição e apresentação: Paulo Azevedo (@pauloazevedooficial)
Trilha sonora original, e mixagem: Conrado Goys (@conza01)
Identidade visual e arte: Glaura Santos (@glaurasantos)
Fotos: Vitor Vieira (@vitorvieirafotografia)
Realização: Comcultura.
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