Neste mês, enquanto retomamos o fôlego para a nova temporada, teremos episódios semanais com os melhores momentos de 2020, divididos em quatro partes. No mínimo, você vai conhecer um pouco de tudo que vivenciamos juntos ano passado nessa breve retrospectiva. E, quem sabe, querer escutar os episódios na íntegra que ainda não ouviu ou relembrar aqueles que mais curtiu!

Nesta primeira parte, você confere a seleção de alguns do melhores momentos das conversas com os nossos convidados dos episódios #15 ao #19 com RITA VON HUNTYALEXANDRE VALVERDE, MARCELO JENECI, ROGER CIPÓFACUNDO GUERRA.

E relembramos também a participação da psicóloga e sexóloga ANA CANOSA no “Lugares Comuns”, quadro que dá voz a especialistas, gente que pesquisa e entende muito do assunto, explicando termos, conceitos e ampliando a nossa visão sobre tópicos mais específicos. Está imperdível!

Ouça aqui o episódio na íntegra:

– Confira a nossa coluna no nosso blog! 

ASPAS

– “Gênero em Termos Reais”, de Raewyn Connell:

“ Movimentos explicitamente reacionários existem, mas não exercem, geralmente, muita influência. Homens se mobilizando enquanto homens para lutar contra mulheres tendem a ser vistos como doentios ou fanáticos. Muito mais relevantes para a defesa das desigualdades de gênero são os movimentos e as instituições em que os interesses dos homens são indiretamente promovidos – entres eles as igrejas, organizações étnicas, partidos conservadores e movimentos nacionalistas.

Um caso particularmente importante de política de gênero indireta é o neoliberalismo, a ideologia econômica dominante hoje em dia. O neoliberalismo é, em princípio, neutro em relação a gênero. O ‘indivíduo’ não tem gênero e o mercado oferece vantagens ao empreendedor mais esperto, não a homens ou mulheres em si. Mas o neoliberalismo não luta pela justiça social em relação a gênero.

O neoliberalismo pode funcionar como um tipo de política de masculinidade em grande medida por causa do papel poderoso do Estado na ordem de gênero. O Estado constitui relações de gênero de muitas maneiras, e todas as suas políticas de gênero afetam homens. Muitas políticas convencionais (por exemplo, questões de segurança e de economia) lidam substancialmente com homens ou servem aos interesses dos homens, sem que esse fato seja reconhecido”.

LUGARES COMUNS com a psicóloga e sexóloga Ana Canosa

Paulo Azevedo:  “Quais fatores da sexualidade afetam sobretudo a saúde do homem? O caso da disfunção erétil, as questões psicológicas… Quais os aspectos que você vê de perto nessa sua trajetória em relação à saúde do homem?”

Ana Canosa: “Mas você fala a saúde física ou emocional?”  

Paulo Azevedo: “As duas”.

Ana Canosa: “ Fisicamente, problemas cardiovasculares, doenças crônicas como diabetes, neurológicas, obesidade, alcoolismo, dependência química… Tudo isso pode afetar a sexualidade. Isso, estamos falando do pacote físico. Falta de cuidado com a alimentação, com a higiene. Então, se a gente pensar que a gente tem 1.600 amputações de pênis no país, principalmente, no Norte e no Nordeste do Brasil por causa de câncer de pênis por ocasião de falta de higiene que é uma das causas. Isso mostra o quanto os homens negligenciam o próprio corpo. O distúrbio androgênico vai falar da diminuição de hormônio masculino pra além dos níveis normais. Porque os homens tem produção de testosterona a vida toda. Isso faz com que o homem produza espermatozoide a vida toda. Só que a gente espera que o nível de testosterona vá diminuindo gradativamente ao longo da idade. Você tem ali uma taxa de diminuição. Quando você tem essa diminuição fora da época aos 40, 50 anos, você tem um distúrbio androgênico. Porque que a gente não fala disso? Porque os programas de TV que falam disso são voltados para as mulheres. Se você pensar: onde a gente tá discutindo isso? Nesses programas femininos da manhã. Quando eu falo ‘femininos’ porque mais as mulheres assistem do que os homens. É curioso isso. Quem está aprendendo sobre isso são as mulheres. (Os homens) é como se ele tivesse um domínio… Sei lá, espiritual do corpo…”.

Paulo Azevedo: “Extra físico”.

Ana Canosa: “ Extra físico do corpo que vai provocar também uma ideia de dissociação completa porque é esse corpo que me leva e traz. Então, faz todo sentido eu cuidar dele. Os homens tem essa dissociação, né? Às vezes eu sinto que os homens funcionam no mundo por meta. Isso me irrita um pouco e, ao mesmo tempo, me deixa sensibilizada. Porque a vida não é a meta. A vida é o processo.  Então, os homens trabalham com a meta. ‘A minha meta é ter 3 milhões até os 40 anos na conta, chegar na carreira a tal coisa, é terminar meu trabalho hoje e trazer dinheiro pra casa’. Os homens trabalham com a meta, trabalham com o fim. Eles são estimulados a trabalhar de maneira binária – certo e errado, sim e não, e com o fim. E eles abandonam o processo. Muitas vezes eles negligenciam o processo”.

Paulo Azevedo: “Como se a vida fosse tão controlável assim”.

Ana Canosa: “Fosse controlável e só isso. Então, é interesse que você traz uma angústia para um homem, traz um sentimento, o cara não sabe o que falar, ele vai pro fim. ‘Não, mas tá tudo bem, isso aqui você faz assim’. Ou: ‘Nossa, o meu amigo tá tirando sarro de mim na escola’. ‘Dá porrada nele’ ou ‘Tira sarro também’. É sempre assim a resposta. Nunca é: “Como é que você se sente? Puta, que sacanagem, né? Como é que é? Você também faz? Como tá isso lá na sua sala de aula, vamos falar sobre isso. Tirar sarro com o quê? Tá rolando com todo mundo? Você também tá tirando sarro? Como é que você se sente?”.

Paulo Azevedo:  “Ampliar o discurso”.

Ana Canosa:  “Ampliar o discurso. Não é assim. Então, os homens são mais negligentes com o próprio corpo. E são negligentes totais com as emoções”.

Paulo Azevedo:  “Quando isso acontece, Ana, na trajetória de um menino, por exemplo?”.

Ana Canosa:  “Agora… Começa nos sete anos, na hora do grupo, do fortalecimento social. O grupo dos meninos, o grupo dos iguais. Começa nos sete, aos onze, doze anos… É muito forte essa perda porque o grupo social traz muito… Aí ele vai pedir essa negação que a gente falou: ‘Não seja bichinha; não seja isso; não seja aquilo…’. Começam as disputas de poder: quem é melhor no futebol, quem não é. Então, começa a sacanagem. É impressionante como os homens como eles são incapazes de falar de emoção e já tem que ser sacana”.

almasculina é feito por:

Idealização, roteiro, edição e apresentação: Paulo Azevedo (@pauloazevedooficial).

Trilha sonora original e mixagem: Conrado Goys (@conza01).

Identidade visual e arte: Glaura Santos (@glaurasantos).

Fotos: Vitor Vieira (@vitorvieirafotografia).

Realização: Comcultura (www.comcultura.com.br).

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