Com o cineasta Cacau Rhoden e a participação especial do cientista PhD e Co-host Podcast Naruhodo Altay de Souza

O episódio #40 – Parte 1 do @almasculina com o cineasta Cacau Rhoden (@cacaurhoden), que fala sobre referências de masculinidades, paternidade, cinema, machismo… Sempre relacionados à sua visão sobre as masculinidades.

O cientista PhD e Co-host Podcast Naruhodo Altay de Souza (@altayals) é o nosso convidado no “Lugares Comuns”, quadro que dá voz a especialistas, gente que pesquisa e entende muito do assunto, explicando termos, conceitos e ampliando a nossa visão sobre tópicos mais específicos.

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– Ouça aqui o episódio na íntegra:

– Assista à gravação na íntegra no nosso canal no Youtube!

ASPAS 

“O que mais leva o homem moderno a sofrer é o ferimento sem a transformação. Sofre o fardo saturnino da definição de papéis que aprisiona em vez de libertar. Sofre as espetadas na alma sem a visão divina. É-lhe pedido que seja homem quando ninguém é capaz de definir o que isso significa, a não ser de maneira bem trivial. É-lhe pedido que saia da infância à idade adulta sem ritos de passagem, sem velhos sábios para recebê-lo e instruí-lo, e sem a ideia positiva do que seja masculinidade. Seus ferimentos não são transformadores, não geram consciência mais profunda, não o conduzem a uma vida mais fecunda. Eles insensível e repetidamente o atordoam, provocando o entorpecimento da alma antes que o corpo tenha o bom senso de morrer. (…)

Uma das consequências da ausência dos ritos de passagem é os homens duvidarem da sua masculinidade. Sentem que, por mais que tenham conseguido se proteger, alguém conseguirá romper o cerco para humilhá-los ou até destruí-los. Ou então a vida alterará o contexto, mudará o jogo, e será considerado incompetente. Assim, ele se encontra em situação na qual de qualquer forma sairá perdendo: prove que é homem, mas as regras mudam o tempo todo, de maneira que você nem sequer sabe como jogar. E quando você ‘chegar’, as regras terão uma vez mais mudado e outra pessoa será melhor do que você. Essa definição multiforme, em eterna transformação, da masculinidade obriga os homens a atuarem no nível da persona, definindo sua realidade basicamente em função de parâmetros coletivos como o salário, o carro, a casa, o nível social.

A frágil psique do homem foi embrutecida e tornada trivial. Historicamente, tem sido condicionado a procriar e proteger a família, e a ser definido em função da sua produtividade. Tudo isso diz muito pouco, ou nada, da sua alma, da sua personalidade, da sua individualidade. Nesse mundo, os homens têm sina trágica: não alcançam a tranquilidade, raramente atuam a partir de uma convicção interior e muito poucas vezes saem do jogo mortal. Ainda quando ganham, perdem a alma.

O homem de hoje sofre sozinho seus ferimentos, mas sua reação perturba e prejudica aqueles que o rodeiam. Precisa começar reconhecendo as feridas que carrega, feridas que extravasam diariamente na sua vida, para que um dia possa ficar curado ou ajudar seu mundo”.

ESCUTA AQUI

Cacau Rhoden indicou:

– Documentário “O Sal da Terra” (2015), de WIn Wenders e Juliano Salgado:

Nos últimos 40 anos, o fotógrafo Sebastião Salgado viajou por todos os continentes, na peugada de uma humanidade sempre em mutação e testemunhou alguns dos maiores eventos da nossa História recente, conflitos, a fome e o êxodo. A vida e o trabalho de Sebastião Salgado são-nos revelados neste documentário pelo filho, Juliano, que o acompanhou nas suas últimas viagens, e por Wim Wenders, também ele fotógrafo.Disponível no GloboPlay, Looke, Now, GooglePlay e AppleTV;

– Documentário “David Attenborough: A Vida no Nosso Planeta” (2020), de Alastair Fothergill, Keith Scholey e Jonathan Hughes:

O naturalista britânico, de 94 anos de idade, fala sobre sua trajetória e a evolução da vida na Terra, lamenta a perda de áreas selvagens do planeta e oferece sua visão de um futuro possível. O documentário começa mostrando uma cidade abandonada e em ruinas em um cenário desolador. Disponível na Netflix;

– Filme “Meu Pai (The Father) (2020), de Florian Zeller:

Escrito e dirigido por Florian Zeller, um idoso sofre com as confusões da própria mente e rejeita qualquer ajuda. Enquanto isso, sua filha tenta lidar com a perda do pai que está vivo, mas cada dia mais longe. Essa complexa história sobre demência concorreu a 6 categorias do Oscar 2021 e conquistou nas categorias de melhor roteiro adaptado e melhor ator para o incrível Sir Anthony Hopkins. Disponível no Looke, Now, Google Play, Vivo Play, Sky Play e Belas Artes à La Carte;

– Documentário “Piripkura” (2017), de Mariana Oliva, Renata Terra e Bruno Jorge:

Dois indígenas nômades, do povo Piripkura, sobrevivem cercados por fazendas e madeireiros numa área ainda protegida no meio da floresta amazônica. Jair Candor, servidor da FUNAI, acompanha os dois índios desde 1989. Ele realiza expedições periódicas, muitas delas acompanhado por Rita, a terceira sobrevivente Piripkura, para monitorar vestígios que comprovem a presença deles na floresta e para impedir a invasão da área. Packyî e Tamandua vivem com um facão, um machado cego e uma tocha.  Piripkura aborda as consequências de uma tragédia e revela a força, resiliência e autonomia daqueles que foram expostos a todo tipo de ameaças e têm resistido ao contato. Disponível gratuitamente no VideoCamp e também no Amazon Prime Video;

– Filme “A Vida dos Outros” (2007), de Florian Henckel von Donnersmarck:

Nos anos 80, o Ministro da Cultura da Alemanha Oriental se interessa por Christa, um atriz que namora um famoso dramaturgo. Suspeitos de infidelidade ao comunismo, são vigiados por um capitão do serviço secreto, que fica fascinado pelas suas vidas. O premiado com o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro 2007 está disponível no Amazon Prime Video e Looke;

– Filme “A Noite de 12 Anos” ((2018), de Álvaro Brechner:

José Mujica, Mauricio Rosencof e Eleuterio Fernández Huidobro são militantes dos Tupamaros, grupo que luta contra a ditadura militar local. Eles são presos em ações distintas e encarcerados junto a outros nove companheiros, de forma que não possam sequer falar um com o outro. Ao longo dos anos, o trio busca meios de sobreviver não só à tortura, mas também ao encarceramento que fez com que ficassem completamente alheios à sociedade, sem a menor ideia se um dia seriam soltos. Disponível na Netflix;

– Livro “1933 Foi Um Ano Ruim”, de John Fante:

No fundo do estado norte-americano do Colorado, Dominic Molise, 17 anos, filho de um pedreiro e uma dona de casa temente a Deus, ambos imigrantes italianos, sonha em fugir do frio, ir para a Califórnia e tornar-se um grande arremessador de baseball, graças ao seu vigoroso braço esquerdo – dádiva concedida à miséria da sua vida. Enquanto isso não acontece, ele atura a avó ranzinza, os irmãos e o pai, que trai a sua mãe, pede segredo ao filho e ainda por cima desdenha dos seus sonhos esportivos, querendo transformá-lo em pedreiro como ele. Dominic freqüenta a casa de Kenny, filho de um dos homens mais ricos da cidade, e apaixona-se por Dorothy, a refinada irmã do amigo.

“1933 é um ano ruim” porque Dominic depara-se com as impossibilidades da vida humana e tem de escolher entre seu sonho dourado e a pequena existência que lhe é insuportável. “1933 foi um ano ruim” é, como grande parte da literatura de John Fante, baseado em fatos autobiográficos: filho de emigrantes italianos pobres – ele um pedreiro, ela, uma dona de casa devota –, Fante fugiu da sua cidade natal para tornar-se escritor na Califórnia. Como todos os textos do autor, 1933 está imbuído de um sentimento de compaixão para com as fraquezas e misérias humanas: fraquezas e compaixão tais que pintam o homem no seu estado mais nu e indefeso ao mesmo tempo que devolvem-lhe a honra e a dignidade de um ser sofredor. O manuscrito do romance permaneceu inédito durante anos e veio à luz devido ao esforço de Charles Bukowski de resgatar a obra de Fante, sobre quem dizia: “Finalmente aqui está um homem que não tem medo da emoção”. Esta edição de 1933 foi um ano ruim faz parte de um esforço do mercado editorial brasileiro de resgatar e tornar novamente acessível ao público a obra de um dos maiores escritores norte-americanos.

– Livro “Um Herói com Rosto Africano: Mitos da África”, de Clyde W. Ford:

Uma bela viagem pela sabedoria africana e em especial pela rica mitologia do continente negro. Habitado por centenas de grupos étnicos, esse universo revela um sem-número de lendas populares e mitos das mais diversas fontes. Compartilhando seu pensamento com três expressivos mitólogos — Adolph Bastian, C. G. Jung e Joseph Campbell – o autor nos apresenta um livro riquíssimo, que inclui um mapa detalhado dos povos e mitos da África.

– Livro “O Clube do Filme”, de David Gilmour:

Eram tempos difíceis para David Gilmour: sem trabalho fixo, com o dinheiro curto e o filho de 15 anos colecionando reprovações em todas as matérias do ensino médio. Diante da desorientação e da infelicidade desse filho-problema, o pai faz uma oferta fora dos padrões: o garoto poderia sair da escola — e ficar sem trabalhar e sem pagar aluguel — desde que assistisse semanalmente a três filmes escolhidos pelo pai. Com essa aposta diferente na recuperação e na formação de um rapaz que está “perdido”, formaram o clube do filme. Semana a semana, lado a lado, pai e filho viam e discutiam o melhor (e, ocasionalmente, o pior) do cinema: de A Doce Vida (o clássico de Federico Fellini) a Instinto Selvagem (o thriller sensual estrelado por Sharon Stone); de Os Reis do Iê, Iê, Iê (hit cinematográfico da Beatlemania) a O Iluminado (interpretação primorosa de Jack Nicholson, dirigido por Stanley Kubrick); de O Poderoso Chefão (um dos integrantes das listas de “melhores filmes de todos os tempos”) a Amores Expressos (cult romântico e contemporâneo do chinês Wong Kar-Way). Essas sessões os mantinham em constante diálogo — sobre mulheres, música, dor de cotovelo, trabalho, drogas, amor, amizade —, e abriam as portas para o universo interior do adolescente, num momento em que os pais geralmente as encontram fechadas. David Gilmour, crítico de cinema e escritor premiado, oferece uma percepção singular sobre filmes, roteiros, diretores e atores inesquecíveis ao relatar essa vivência com olho clínico e muita sinceridade. O autor emociona ao colocar os leitores diante da descoberta da vida adulta pelos olhos de um jovem e dos dilemas da adolescência administrados por um pai muito presente. Nas palavras de Gilmour: “É um exemplo do que o cinema é capaz, de como os filmes podem vencer suas defesas e realmente atingir seu coração.”

– Livro “Continuo Preta: A Vida de Sueli Carneiro”, de Bianca Santana:

Sueli Carneiro é uma das principais intelectuais públicas brasileiras. Em mais de quarenta anos de ativismo, ela vem combinando escrita, academia e intelectualidade para qualificar uma luta política que enegreceu o feminismo no Brasil e, ao mesmo tempo, colocou as mulheres como protagonistas do movimento negro. “Entre a esquerda e a direita, sei que continuo preta”. Mais do que célebre, a tirada proferida por Sueli Carneiro sintetiza um lugar político fundamental para o movimento negro brasileiro. E sua vida oferece o desenho exemplar dessa posição. Para dar conta de uma longa trajetória política, que se confunde com a própria história do Brasil pós-redemocratização, a jornalista Bianca Santana realizou dezenas de horas de entrevistas e empreendeu uma escavação documental cuidadosa nesta biografia que é, a um só tempo, tributo à caminhada de Sueli Carneiro, repositório de informação sobre a luta das mulheres negras no Brasil e, por tudo isso, preciosa fonte de inspiração para as futuras gerações.

Paulo Azevedo indicou:

– Documentários dirigidos por Cacau Rhoden:

“Nunca Me Sonharam” (2017):

Os desafios do presente, as expectativas para o futuro e os sonhos de quem vive a realidade do ensino nas escolas públicas do Brasil. Estudantes, gestores, professores e especialistas discutem uma reflexão fundamental e urgente sobre o valor da educação. Detalhe: trilha sonora composta pelo nosso querido Conrado Goys, responsável pela qualidade do áudio que chega pra vocês aqui no almasculina! Disponível gratuitamente no VideoCamp e You Tube Movies;

“Tarja Branca” (2014):

As brincadeiras infantis fazem parte de nossa formação social, intelectual e afetiva. Por elas nos socializamos, nos definimos e introjetamos muitos dos hábitos culturais da vida adulta. Todos brincamos na infância e no brincar fomos livres e felizes. Mas será que ainda carregamos essa subjetividade brincante e cultura lúdica vivas dentro de nós? Será que a criança que fomos se orgulharia do adulto em que se transformou? Um filme sobre um espírito lúdico que todos nós temos e que o sistema fez com que, ao ficarmos adultos, abandonássemos. O filme ganhou prêmio no Festival de Toronto e ficou onze semanas em cartaz nos cinemas, o que é um sucesso imenso para um documentário. Disponível gratuitamente numa plataforma gratuita (infelizmente, ainda pouco divulgada), que é o Video Camp, que traz inúmeros filmes e documentários brasileiros que valem muito a pena assistir e conhecer, e também no Amazon Prime Video;

“Quem? Entre Muros e Pontes” (2015):

O curta-documentário marca os 40 anos da construção do muro que dividiu o povo saharaui. O filme aborda o drama das mais de 200 mil famílias que foram apartadas de suas vidas pelo muro construído pelo Marrocos em 1975. Há, inclusive, famílias que foram divididas, com membros morando em ambos os lados do muro. Disponível gratuitamente no VideoCamp e You Tube Movies;

– Filme Minari” (2020), de Lee Isaac Chung:

Inspirado na história familiar do diretor, O filme é um drama que acompanha a história de uma família coreana que se muda para os Estados Unidos em busca de melhores condições de trabalho e vida. O pai de família, focado em viver o “sonho americano”, passa por desilusões, enquanto luta para manter sua família alimentada e dar orgulho para seus filhos.O filme premiado no Festival Sundance pelo júri e público e também concorreu a 6 categorias do Oscar 2021, conquistado na categoria de melhor atriz coadjuvante.

– Série “Euphoria” (2019), criada por Sam Levinson:

Série norte-americana que acompanha um grupo de estudantes do ensino médio enquanto eles navegam no amor e nas amizades em um mundo de drogas, sexo, trauma e mídias sociais. A série é uma adaptação da série original israelense e está disponível na HBO GO.

almasculina é feito por:

Idealização, roteiro, edição e apresentação: Paulo Azevedo (@pauloazevedooficial).

Trilha sonora original e mixagem: Conrado Goys (@conza01).

Identidade visual e arte: Glaura Santos (@glaurasantos).

Fotos: Vitor Vieira (@vitorvieirafotografia).

Realização: Comcultura (www.comcultura.com.br).

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