Com o orientador espiritual e religioso budista, Monge Genshô, e a participação especial do psicanalista, escritor e professor Christian Dunker

O episódio #63 – Parte 1 do @almasculina traz o orientador espiritual e religioso budista, Monge Genshô (@mongegensho), trazemos uma conversa mais que necessária para nossos tempos sobre budismo e espiritualidade, a virada de chave das masculinidades, a relação com o trabalho, sucesso, racismo, silêncio, empatia, violências e a tragédia da guerra na Ucrânia… E muito mais!

O psicanalista, escritor e professor Christian Dunker (@chrisdunker) “Lugares Comuns”, quadro que dá voz a especialistas, gente que pesquisa e entende muito do assunto, explicando termos, conceitos e ampliando a nossa visão sobre tópicos mais específicos.

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– Ouça aqui o episódio na íntegra:

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LUGARES COMUNS com o psicanalista, escritor e professor Christian Dunker (@chrisdunker) sobre “Masculinidades e empatia”:

PAULO AZEVEDO: “Tem um tema que você sempre traz nas entrevistas, nas conversas no seu próprio canal ‘Pensando Nisso’, que eu acho muito interessante a maneira como você coloca que é a empatia. Eu queria que você contasse para a gente o que que é e como os homens podem aprender com essa prática. E qual seria a diferença para simpatia.”

CHRISTIAN DUNKER: “Olha, superlegal essa pergunta, porque isso foi de fato produto de uma pesquisa, que também foi cruzando nosso caminho, foi fazendo as apresentações Tebas e eu, juntando depois as escolas, a gente foi ver um pouco que conceito é esse. Em primeiro lugar é um conceito muito mais recente do que a gente imagina, ele não é da época dos gregos. Simpatia é, empatia, não. Empatia é o pathos que cai ao mesmo tempo, junto aos sentimentos, experiência de mundo e que se partilham, ok. Simpatia, então, está no registro da identificação. Torcemos pelo Palmeiras, gostamos no time X ou Y, concordamos. E era esse o sentido que você encontra quando você vê a palavra empatia sendo usada. Ela é sinônimo de legitimar o que estou sentindo, fazer eco para o que estou dizendo, não me contrariar, não me colocar muitas perguntas e estar do meu lado contra alguém. A empatia, ela nasceu na psicologia, ela não nasceu na estética com teóricos que olhavam para determinadas imagens e percebiam que essas imagens tiravam a gente do lugar, capturavam a gente, sabe? Aquela foto que você dizia eu estou me vendo dentro daquela, ou então as pessoas saiam daquela imagem e estavam como um filme, aquele do Wood Allen: ‘Rosa Púrpura do Cairo’ está andando por aí. Este seria um sentindo originário de empatia, imagem movendo chamada i’m full on sentir junto com aquela imagem. Isso virou na Inglaterra, aí na mão de um psicólogo, empathy que a gente traduz por empatia. O Freud estudou essa noção e dizia claramente, nenhum tratamento psicanalítico vale a pena se não houver essa empatia inicial. E onde que ele disse isso? Na teoria dos grupos e na teoria dos chistes, ou seja, lúdico, na brincadeira. Empatia então, tem a ver com estou brincando com o outro. Não estou juntando com o outro para bater em alguém. Brincar com o outro pode ser uma brincadeira cooperativa ou uma brincadeira antagonística. Eu sou empático porque no fundo eu estou junto com o outro, sendo diferente do outro. O segredo tem a ver com eu sio do meu lugar, não estou acomodado nas minhas vestes narcísicas ou fálicas e eu vou para o ponto de vista do outro. Se não consegue fazer isso, volta para primeira casa, porque realmente, você está com problema de ejaculação precoce mental. Mas ao ponto de vista do outro é um objeto geométrico, um ponto, para o outro, é muito mais que um ponto. Viva Descartes, o outro tem carne, tem corpo, tem inconsciência, ele tem coisas que ele nem sabe que ele sabe. O outro tem fantasias, recalcadas, também. Você pode dizer, ‘seu idiota, você não está vendo? Não, eu sou neurótico, eu não vejo a coisa mais óbvia. Olha para mim, e é assim, sempre’. E tem o outro e tem essa imagem, que acabei de dizer, o eu tem uma complexão de imagens, empatia é um transitivismo de imagens, eu me vejo no outro, mas além disso, eu escuto o outro nisso que ele não se escuta. Como é que eu vou fazer para escutar isso que ele não está escutando? Com minhas orelhas racionais e cognitivas? Não. Com o seu corpo, de preferência, nu, desvestido, suspenso dos seus prejuízos, dos seus preconceitos, no teu lugar de desconhecido. É como música, aquilo está te afetando, mas você não vai saber direitinho, não é uma maquininha que você calcula, tal, você está sendo afetado, com seus afetos ajudam, mas não resolvem. No final se você for afetado por aquilo que está no desconhecido no outro, no familiar do outro e conseguir criar inteligentemente algo com isso, inteligentemente, quer dizer algo novo ao que não foi dito, ao que está censurado, algo que está pedindo para ser dito, algo que a gente não sabe o que é, pode ser uma pergunta. Tente um passo a mais, acrescente um passo a mais na pesquisa, no jogo, pronto, você chegou na empatia. Daí você está dividindo com o outro não são seus gostos, seu partido político, você está dividindo com o outro seu ódio, o que você não sabe, suas imperfeições, suas vulnerabilidades, incertezas, tudo que você…. Se alguém souber disso, pode usar contra você, por isso que a empatia é tão rara, porque ela te põe numa posição meio desguarnecida, você vai ter que se arriscar a perder poder. E pode perder mesmo, é por isso, que a gente vê nas escolas muitos acidentes empáticos acontecendo. Eu conto para aquele meu amigo um negócio íntimo, formei minha intimidade com ele, mas meu amigo não estava tão ligado de que aquilo era precioso, ele vai lá e posta. O Chiquinho acha que…. Isso mata, isso dá suicídio social, não faço nunca mais isso na vida! Aí você começa a criar um personagem social, mais simpático, mais simpático e quanto à verdadeira empatia, um dia talvez.

PAULO AZEVEDO: “Isso me lembra muito a fala de um ator japonês Yoshi Oida, que trabalhou com Peter Brook um grande mestre das artes cênicas que ele fala que o ator pode ter tudo, menos o olhar de fora sobre ele. Tem muito a ver com esse lugar da empatia, né? O ator, ele pode dominar todo o gesto, tudo aquilo que ele acha que domina como técnico, a expressão, mas ele nunca vai ter esse olhar sobre ele. Tem a ver com o que você está falando do corpo como um todo, que seu inconsciente, você não está com domínio integral da comunicação. Que é o mal da comunicação também, na atual comunicação não violenta vem entre aquilo que eu estou tentando expressar, que eu preciso, que eu desejo, que eu quero de você e aquilo que chega para você.”

CHRISTIAN DUNKER: “Perfeito! E ainda volta na nossa conversa sobre violência. Tem aquele que vai dizer assim, só não tem violência quando eu escuto aquilo que eu já queria ouvir: Uhuuu, máximo! 50 cruzes! Mas quando o outro diz, putz, achei você cansado hoje! Poxa, você não está sendo empático!”

PAULO AZEVEDO: “E vejo essa dificuldade em homens no meio audiovisual onde eu atuo, no meio empresarial onde eu atuo, que né… mais de 73% das demissões vem da falta de escuta, em sua maioria, homens. Faço essa conexão total com meu dia a dia e com a minha dificuldade de empatia.”

almasculina é feito por:

Idealização, roteiro, edição e apresentação: Paulo Azevedo (@pauloazevedooficial).

Trilha sonora original e mixagem: Conrado Goys (@conza01).

Fotos e arte: Vitor Vieira (@vitorvieirafotografia).

Mídias sociais: Luísa Guimarães (@luisa.fguimaraes).

Colaboração: Glaura Santos (@glaurasantos) e Soraia Azevedo (@alvesdeazevedosoraia).

Realização: Comcultura (www.comcultura.com.br).

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