Em janeiro, enquanto retomamos o fôlego para a nova temporada, temos episódios especiais com alguns dos melhores momentos de 2021, divididos em quatro partes. O melhor de tudo, foi se dar conta do quanto foi difícil selecionar somente alguns trechos de todas as conversas incríveis que tivemos ano passado.

Aproveite a chance de conhecer um pouco de tudo que vivenciamos juntos em 2021 nessa breve retrospectiva. E, quem sabe, querer escutar os episódios na íntegra que ainda não ouviu ou relembrar aqueles que mais curtiu!

Nesta 2a parte, você confere a nossa seleção de alguns do melhores momentos das conversas com os nossos convidados dos episódios #39 ao #44: BÁRBARA PAZ, CACAU RHODEN, CLAUDIO SERVA, FABIO SOUSA, FELIPE FAVORETTE e RAUL MISTURADA.

E relembramos também a participação do cientista PhD e Co-host Podcast Naruhodo Altay de Souza (@altayals) no “Lugares Comuns”, quadro que dá voz a especialistas, gente que pesquisa e entende muito do assunto, explicando termos, conceitos e ampliando a nossa visão sobre tópicos mais específicos. Não perca!

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– Ouça aqui o episódio na íntegra:

ASPAS #40:

– Livro “Sob a Sombra de Saturno: uma Perspectiva Junguiana”, de James Hollis:

“O que mais leva o homem moderno a sofrer é o ferimento sem a transformação. Sofre o fardo saturnino da definição de papéis que aprisiona em vez de libertar. Sofre as espetadas na alma sem a visão divina. É-lhe pedido que seja homem quando ninguém é capaz de definir o que isso significa, a não ser de maneira bem trivial. É-lhe pedido que saia da infância à idade adulta sem ritos de passagem, sem velhos sábios para recebê-lo e instruí-lo, e sem a ideia positiva do que seja masculinidade. Seus ferimentos não são transformadores, não geram consciência mais profunda, não o conduzem a uma vida mais fecunda. Eles insensível e repetidamente o atordoam, provocando o entorpecimento da alma antes que o corpo tenha o bom senso de morrer. (…)

Uma das consequências da ausência dos ritos de passagem é os homens duvidarem da sua masculinidade. Sentem que, por mais que tenham conseguido se proteger, alguém conseguirá romper o cerco para humilhá-los ou até destruí-los. Ou então a vida alterará o contexto, mudará o jogo, e será considerado incompetente. Assim, ele se encontra em situação na qual de qualquer forma sairá perdendo: prove que é homem, mas as regras mudam o tempo todo, de maneira que você nem sequer sabe como jogar. E quando você ‘chegar’, as regras terão uma vez mais mudado e outra pessoa será melhor do que você. Essa definição multiforme, em eterna transformação, da masculinidade obriga os homens a atuarem no nível da persona, definindo sua realidade basicamente em função de parâmetros coletivos como o salário, o carro, a casa, o nível social.

A frágil psique do homem foi embrutecida e tornada trivial. Historicamente, tem sido condicionado a procriar e proteger a família, e a ser definido em função da sua produtividade. Tudo isso diz muito pouco, ou nada, da sua alma, da sua personalidade, da sua individualidade. Nesse mundo, os homens têm sina trágica: não alcançam a tranquilidade, raramente atuam a partir de uma convicção interior e muito poucas vezes saem do jogo mortal. Ainda quando ganham, perdem a alma.

O homem de hoje sofre sozinho seus ferimentos, mas sua reação perturba e prejudica aqueles que o rodeiam. Precisa começar reconhecendo as feridas que carrega, feridas que extravasam diariamente na sua vida, para que um dia possa ficar curado ou ajudar seu mundo”.

LUGARES COMUNS com Altay de Souza (@altayals) sobre “Cérebros masculinos e femininos” (episódio #39):

Paulo Azevedo: “Pesquisas apontam que existem mais diferenças entre os cérebros de homens do que os cérebros de homens e mulheres. Inclusive, no episódio #23 do podcast Naruhodo, que você tem junto com o Ken Fujioka, nosso convidado do episódio #24, vocês falam sobre isso. O que a ciência diz hoje, sobre a real diferença entre os cérebros masculinos e femininos? Existe realmente um “essencialismo” do que é ser homem e do que é ser mulher? ”

Altay de Souza: “ Obrigado pelo convite antes de mais nada. Sobre cérebro de homens e mulheres, uma coisa muito importante que não é tratada na mídia em geral, é o que é ser homem e mulher, né? Existe uma discussão muito grande agora na questão de gênero, identidade de gênero e tudo mais, e uma grande confusão, na verdade. Então quando você fala, diferença de cérebros de homens e mulheres, tem que definir que nível de análise você está falando, está? Eu vou tratar aqui da explicação do nível de análise da causa material biológica, apenas. Então, eu não vou falar de gênero, vou falar de sexo, está. Isso é muito importante para evitar certos tipos de generalização que pode levar a discursos, por exemplo, transfóbicos, assim. A gente até tem um episódio no podcast Naruhodo sobre o porquê as pessoas se tornam transgêneros ou são transgêneros, enfim. Existe um mecanismo de causa material? Existe um mecanismo genético fracionado, mas ele é causa necessária, mas não suficiente par ao desenvolvimento do gênero em si. Isso é interessante, porque na biologia, no século XIX, desde o século XIX existe isso, o conceito de um biólogo, chamado Conrad Hal Waddington, que é chamado creodo, o creodo é o seguinte, quando você é só um óvulo fecundado no início, quando você está ali nas primeiras fases do desenvolvimento embrionário, mórula, blástula, você já tem genes, existe toda uma programação genética para o desenvolvimento daquele feto, só que esse desenvolvimento está ainda potencial. Vamos imaginar que eu tenho um gene alterado para desenvolver uma doença genética, só que eu ainda estou no óvulo, um óvulo fecundado, ainda estou nos primeiros instantes da geração da vida. Esse gene alterado ainda não é a doença, ele é potencialmente, ele existe um creodo. Os genes na verdade eles geram uma redução de probabilidades de diferentes desenvolvimentos do corpo, ou de funções ou de estruturas do corpo. Então, quando você olha um feto, ele é basicamente um creodo, ele é a soma de potencialidades. Essas potencialidades vão se substanciar a partir do momento que o feto consegue se desenvolver e depois quando ele nasce, e depois ainda com a interação com o ambiente. Então esse conceito de creodo é muito importante de separar, por exemplo, quando a gente vai falar de cérebro de pessoas do sexo masculino e do sexo feminino. Independente de sexo, gênero e identidade de gênero, você pode dividir todos os homo sapiens, todas as pessoas em dois grupos. As pessoas que são capazes de gerar filhos, de se reproduzirem e as que não são. Biologicamente, você pode separar todos os indivíduos, independente do que ele sabe sobre ele mesmo, ou conhece sobre ele mesmo, há indivíduos que são capazes de se reproduzir e outros não. Essa característica biológica determina uma série de pressões seletivas, uma série de creodos. Mesmo que você tenha identificação com o sexo feminino ou identificação com o gênero feminino, não é, mas está dentro de um corpo de um homem, nasceu com o corpo de um homem, por exemplo, existe um creodo genético para uma identificação de gênero, mas existe também uma materialidade, uma causa material para outra, isso gera um conflito. Por isso que esse conflito acontece, populacionalmente, numa menor parte dos casos. Na maior parte dos casos é esperado que haja uma consonância entre sua identidade geral de gênero e o seu sexo biológico. Em relação ao cérebro é uma coisa um pouco parecida, temos diferenças, sim entre cérebros de pessoas do sexo masculino e do sexo feminino, existe essa diferença, sobretudo pela ação de hormônios. As diferenças se dão no volume de algumas áreas cerebrais em relação a outras, mas o mais importante não é a diferença, na verdade nos estudos de biopsicologia, é que diferença não necessariamente pressupõe vantagem. Por exemplo, eu posso ter uma causa material genética para ser mais alto. Eu ser mais alto que outra pessoa, a rigor é uma diferença, mas não pressupõe uma vantagem a rigor. Mais alto me possibilita fazer algumas coisas que as pessoas mais baixas não conseguem, mas vice-versa, os mais baixos também conseguem. Então, não necessariamente, é uma vantagem. As pessoas focam muito na existência de diferenças para justificar vantagens que na verdade não são por causa dessas diferenças. Temos diferenças, sim, entre os cérebros de homens e mulheres em algumas áreas. Na verdade, no que diz respeito ao volume de algumas áreas, mas isso é resultante da ação de hormônios, principalmente, durante o desenvolvimento embrionário e também, durante a puberdade. A partir dos 11-12-13-14 anos, isso gera diferenças, isso mostra que existem pressões seletivas diferencias para as estratégias reprodutivas de pessoas do sexo masculino e feminino e quando essas potencialidades, esses creodos se dão num ambiente social, com certeza acontecerem diferenças. Coisa que potencialmente por causa material você tem uma maior predisposição para desenvolver ou não desenvolver por conta da interação com o ambiente, você pode mudar essas probabilidades de desenvolvimento ou não. A grande discussão por trás dessa fala, na verdade, se existe o essencialismo, sim. O essencialismo não nasce na genética. Ele nasce na interação entre o creodo biológico e o meio social. O próprio fato de você perguntar se uma coisa é biológica ou cultural, já mostra uma falsa dicotomia. E, é por isso que você não consegue enxergar o essencialismo. O essencialismo, ele nasce numa probabilidade. O essencialismo que temos de essencial, mesmo, a existência de probabilidades para o desenvolvimento de certas competências na junção dos creodos biológicos e os meios sociais determinados por um certo contexto histórico. Então, isso é muito importante! Então, a grande mensagem é: ”o que existe de essencial nas pessoas? ” São as suas potencialidades, que depois no meio social vão se tornar probabilidades e diferenças não pressupõem vantagens. Isso é uma grande mensagem que vocês têm que levar para vocês. ”

ESCUTA AQUI

– Série “Transparent” (2014), de Jill Soloway (indicado no episódio #39):

Mort tem três filhos já adultos e decide reuni-los para falar do futuro. Os três imaginam que o assunto seja herança financeira, mas ficam chocados quando o pai anuncia que deseja se assumir como transgênero. Disponível no Amazon Prime Video.

– Filme “Druk – Mais Uma Rodada” (2020), de Thomas Vinterberg (indicado no episódio #39):

Vencedor do Oscar 2021 de filme internacional e amplamente reconhecido na temporada de premiações, o filme traz a história de quatro professores com problemas em suas vidas, testando a teoria de que ao manter um nível constante de álcool em suas correntes sanguíneas, suas vidas irão melhorar. Obviamente, muita coisa dá errado. O filme investiga os dilemas e os problemas do consumo de álcool sem limites – uma questão real não só na Dinamarca, de onde vem essa produção, mas em vários países, onde adolescents são incentivados a beber desde muito cedo. Um belo exercício de reflexão sobre a vida, masculinidade, ego e escapismos fáceis. Disponível no Youtube, Now, GooglePLay, AppleTV.

– Série “Ted Lasso” (2020), de Bill Lawrence e Joel Kelly (indicado no episódio #39):

Ted Lasso conta a história do personagem-título, vivido por Sudeikis, um treinador de futebol americano que deixa sua pacata vida nos Estados Unidos para assumir o desafio de treinar um time de futebol (ou soccer) em Londres, na Inglaterra. Novo técnico do AFC Richmond, time tradicional da Premeire League, a primeira divisão inglesa, Lasso precisa enfrentar muito mais do que a diferença entre as culturas dos dois países: ele não entende nada de futebol. Disponível na Apple TV+.

– Filme “Meu Pai (The Father) (2020), de Florian Zeller (indicado no episódio #40):

Escrito e dirigido por Florian Zeller, um idoso sofre com as confusões da própria mente e rejeita qualquer ajuda. Enquanto isso, sua filha tenta lidar com a perda do pai que está vivo, mas cada dia mais longe. Essa complexa história sobre demência concorreu a 6 categorias do Oscar 2021 e conquistou nas categorias de melhor roteiro adaptado e melhor ator para o incrível Sir Anthony Hopkins. Disponível no Looke, Now, Google Play, Vivo Play, Sky Play e Belas Artes à La Carte;

– Série “Euphoria” (2019), criada por Sam Levinson (indicado no episódio #40):

Série norte-americana que acompanha um grupo de estudantes do ensino médio enquanto eles navegam no amor e nas amizades em um mundo de drogas, sexo, trauma e mídias sociais. A série é uma adaptação da série original israelense e está disponível na HBO GO;

– Documentário “O Silêncio dos Homens” (2019), dir. audiovisual de Luiza Castro e Ian Leite / uma iniciativa Papo de Homem (indicado no episódio #41):

O filme é parte de um projeto que ouviu mais de 40mil pessoas em questões a respeito das masculinidades e desembocou num documentário e num livro-ferramenta baseado nesse estudo com dados públicos por meio de um convênio com o Consórcio de Informações Sociais (CIS) da USP. Disponível no Youtube;

– Filme “Paterson” (2017), de Jim Jarmusch (indicado no episódio #42):

Na cidade de Paterson, em Nova Jersey/EUA, Paterson, um pacato motorista de ônibus local, vira um personagem conhecido por se destacar em uma arte diferente da condução de veículos: o rapaz é também um poeta. Disponível no Amazon Prime Video.

– Série “8 em Istambul” (Ethos), de Berkun Oya e Ali Farkhonde (indicado no episódio #42):

A série constrói mosaico psicológico e cultural da Turquia. Adoecidos pelo clima de medo, insegurança e ressentimento, os personagens vivem o avanço do conservadorismo do atual presidente. Mostra como o autoritarismo pode ser um adoecimento coletivo. A série traz uma apresentação profunda e complexa dos conflitos psicológicos dos personagens centrais, atrelados à protagonista, Meryem, uma estudante pobre de uma família conservadora residente na área rural de Istambul. A expressão e a fala são os temas centrais. Afinal o que pode acontecer quando reprimimos as nossas emoções? Muitos psiquiatras concordam que todos nós podemos adoecer quando permanecemos em silêncio. E, é exatamente isso o que ocorre com os personagens de “8 em Istambul”. Disponível na Netflix.

– Filme “Paternidade” (2021), de Paul Weitz (indicado no episódio #43):

Baseado em uma história real, o filme acompanha Matt, um viúvo que precisa lidar com a dor da perda enquanto aprende a como ser pai. No meio das dificuldades da paternidade, Matt irá fazer de tudo para garantir que sua filha tenha tudo o que precisa. Seja cantando com os seus amigos para fazê-la dormir ou inventando um novo penteado. Além dos obstáculos do dia a dia, Matt também precisa lidar com a pressão da família para se mudar de cidade. A história sobre o amor de pai e filha promete ser emocionante e divertida ao mesmo tempo. Disponível na Netflix.

– Série “Sessão de Terapia” (2021), dirigida por Selton Melo (indicado no episódio #44):

A 5ª temporada da versão brasileira da série de sucesso israelense, dirigida e protagonizada por Selton Melo traz 35 capítulos que permeiam a pandemia, além de outras questões de identificação imediata com o público, como o racismo, gordofobia, maternidade, sempre mostrando que falar de saúde mental nesse momento é de uma relevância absoluta. Uma enfermeira da linha de frente que deixa a família para se dedicar ao hospital, um motoboy que tem acesso à terapia por meio de uma ONG, uma vendedora que tem compulsão alimentar, entre outros contextos e situações, que apontam para o mesmo caminho: falar sobre o problema pode ajudar, desmitificando o trabalho terapêutico. Disponível no GloboPLay;

almasculina é feito por:

Idealização, roteiro, edição e apresentação: Paulo Azevedo (@pauloazevedooficial).

Trilha sonora original e mixagem: Conrado Goys (@conza01).

Identidade visual e arte: Glaura Santos (@glaurasantos).

Fotos: Vitor Vieira (@vitorvieirafotografia).

Realização: Comcultura (www.comcultura.com.br).

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