Com a drag queen, ator, professora e youtuber Rita Von Hunty, com a participação especial da psicóloga e sexóloga Ana Canosa.
O episódio #15 do almasculina” traz uma conversa com a drag queen, ator, professora e youtuber Rita Von Hunty (@rita_von_hunty). Guilherme Terreri fala sobre a arte drag, veganismo, homofobia, influências… Sempre relacionados à sua visão sobre as masculinidades.
A psicóloga e sexóloga Ana Canosa (@anacanosa) é a nossa convidada no “Lugares Comuns”, quadro que dá voz a especialistas, gente que pesquisa e entende muito do assunto, explicando termos, conceitos e ampliando a nossa visão sobre tópicos mais específicos.
– Ouça aqui o episódio na íntegra:
– Assista à gravação na íntegra com o Rita Von Hunty e o LUGARES COMUNS, com a Ana Canosa, no nosso canal no Youtube!
– Confira a nossa coluna semanal no nosso blog!
ASPAS
– “Gênero em Termos Reais”, de Raewyn Connell
“Movimentos explicitamente reacionários existem, mas não exercem, geralmente, muita influência. Homens se mobilizando enquanto homens para lutar contra mulheres tendem a ser vistos como doentios ou fanáticos. Muito mais relevantes para a defesa das desigualdades de gênero são os movimentos e as instituições em que os interesses dos homens são indiretamente promovidos – entres eles as igrejas, organizações étnicas, partidos conservadores e movimentos nacionalistas.
Um caso particularmente importante de política de gênero indireta é o neoliberalismo, a ideologia econômica dominante hoje em dia. O neoliberalismo é, em princípio, neutro em relação a gênero. O ‘indivíduo’ não tem gênero e o mercado oferece vantagens ao empreendedor mais esperto, não a homens ou mulheres em si. Mas o neoliberalismo não luta pela justiça social em relação a gênero.
O neoliberalismo pode funcionar como um tipo de política de masculinidade em grande medida por causa do papel poderoso do Estado na ordem de gênero. O Estado constitui relações de gênero de muitas maneiras, e todas as suas políticas de gênero afetam homens. Muitas políticas convencionais (por exemplo, questões de segurança e de economia) lidam substancialmente com homens ou servem aos interesses dos homens, sem que esse fato seja reconhecido”.
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– Rita Von Hunty (Guilherme Terreri) indicou:
– Filme “Victor ou Victoria” (1982), de Blake Edwards;
– Documentário “Eu Não Sou Seu Negro”, Oscar de melhor documentário de 2017. Nele, o produtor Raoul Peck usa o livro inacabado de James Baldwin sobre o racismo nos EUA para examinar as questões raciais contemporâneas, com relatos sobre as vidas e assassinatos dos lideres ativistas Medgar Evers, Malcolm X e Martin Luther King Jr. Está disponível no Youtube e no Google Play;
– Curta metragem “Happy Birthday, Marsha” (2018), de Reina Gossett e Sasha Wortzel;
– Documentário “Divinas Divas” (2017), de Leandra Leal.
Citou ainda:
– Livro “Políticas de Sexo”, de Gayle Rubin;
– “Teses sobre a História”, de Walter Benjamin;
– “Educação depois de Auschwitz”, de Adorno;
– Filme “Parasita” (2019), de Bong Joon-ho;
– Entrevista “Em Instantes Poucas”, com Cauê Moura + Rita Von Hunty (sobre a arte Drag) ;
– A pesquisa sobre a primeira pessoa a se autointitular como Drag Queen, William Dorse Swann.
– Paulo Azevedo indicou:
– No canal “Tempero Drag”, os vídeos “Masculinidade Tóxica ou Frágil”; e “Gênero e Natureza” ;
– Documentário “A Morte e Vida de Marsha P. Johnson” (2017), do diretor David France. Ele faz um tributo para Johnson, mulher trans negra e figura central na luta pelos direitos gays nos EUA, por meio de entrevistas e uma rica pesquisa de imagens. O filme acompanha sua amiga Victoria Cruz, transgênero ativista, na tentativa de reabrir a investigação 25 anos depois da morte de Marshall. Pra aprofundar, assista o vídeo canal “Tempero Drag”, “Mulheres F_D4 #11: Marsha P. Jhonson”;
– Reality show “RuPaul Drag Race”, com 11 temporadas disponíveis na Netflix. Pra saber mais sobre o programa, assista a conversa com a Rita Von Hunty no vídeo canal DaCota Monteiro.
LUGARES COMUNS com a psicóloga e sexóloga Ana Canosa
Paulo Azevedo: “Existe uma diferença muito grande na abordagem entre um casal homoafetivo e um heteronormativo?”
Ana Canosa: “Não, pra mim não. Eu acho que existe. Existe, por exemplo, um tipo de adaptação de ferramentas para as práticas sexuais específicas. Então, sexo anal, por exemplo. Quando é um casal de gays que gosta ou praticam sexual anal porque nem todo casal de gays pratica sexo anal como a população acha que sim. Ou alguma coisa mais específica de toque na relação entre lésbicas, por exemplo. Mas o trabalho em si é o mesmo. E são as mesmas queixas. Um quer transar, o outro não quer transar e tal. Negociar o desejo numa relação de compromisso de média/longa duração não é fácil”.
Paulo Azevedo: “A gente ouve falar em monogamia, em poliamor, em um monte de conceitos que antes não tinha isso tão público. Como é que você está sentindo essa administração?”
Ana Canosa: “Eu acho o seguinte: eu acho que a vida não é justa. A gente como espécie juntou e desenvolveu a capacidade de amor e apego… O ‘bicho pegou’. Enquanto a gente está lidando com o desejo sexual, atração, início de relação, ninguém tem problema ou temos poucos. O outro pode até ser ruim na cama, mas se tem uma química, a coisa vai. Vai e você sai fora muito do seu ritmo natural porque você tá movido pelo ‘apaixonamento’. Nunca se transa tanto. Quando você vai desenvolvendo o amor e o apego, entra outras, afetivas, de convivência, de relacionamento e o desejo muitas vezes ele é abafado pela convivência, pelo amor, pelo cuidado. E, às vezes, o desejo se esgota ou ele diminui muito. É aí que não é tão justo. Nesse sentido, o ser humano… A gente ainda está tentando resolver esse ‘troço’. Então, chega um momento: ‘Vamos ser monogâmicos todo mundo’. Século XIX, beleza, vamos ser monogâmicos. Não deu certo: 70% de infidelidade conjugal para homens, 50% de infidelidade conjugal para mulheres, divórcio, não deu certo. Então, agora, as pessoas estão falando assim: o que vai dar certo então? Vamos manter? Poliamor é a tentativa de que eu possa viver com você o amor e o apego, mas também amar outra pessoa porque é assim a minha personalidade é. Eu quero ficar livre pra ter outras experiências e ter outros afetos, mas eu quero manter você. Então, desde que a gente desenvolveu o apego, o ‘bicho pegou’ total”.
Paulo Azevedo: “A gente desenvolveu o apego, Ana?”
Ana Canosa: “Existem duas teorias principais: uma que a gente desenvolveu o apego, a partir das necessidades fisiológicas fundamentais. Então, amamentação e tudo. E uma outra teoria de que o apego é anterior a própria necessidade fisiológica: que o ser humano nasce com a capacidade e necessidade de apego, de conexão. De estar em relação, antes mesmo de precisar sobreviver com alimentação etc. Lidar com o desejo não é fácil. Primeiro, o desejo não se esgota na relação romântica ou não se esgota pra todo mundo, praquela pessoa específica. Ainda que a gente vive numa sociedade onde as pessoas, hoje, são muito mais livres sexualmente. Então, isso também te chama a atenção. Antigamente, a minha avó conhecia meu avô, o padre e os vizinhos, no máximo. A minha mãe já conheceu mais gente. Eu então… As possibilidades atrativas são muito grandes. A cultura também colocou a sexualidade num nível extremamente importante. Antes, satisfazer sexualmente não era de grande importância. A gente colocou o sexo num lugar nas relações de muita importância. Só que o parceiro não precisa ser só bom de cama, ele precisa ser amigo, precisa dividir as coisas comigo, ser bom pai, boa mãe… E aí, eu acho também que as pessoas muitas vezes se perdem um pouco. Eu acho a gente falar, discutir a monogamia, se vai ser monogâmico ou não vai. Já atendi trisais de poliamor com suas questões. Nós, seres humanos, somos difíceis, somos complexos”.
Paulo Azevedo: “Porque a gente parte de uma cultura, né?”
Ana Canosa: “Pois é, nós somos complexos”.
almasculina é feito por:
Idealização, roteiro, edição e apresentação: Paulo Azevedo (@pauloazevedooficial)
Trilha sonora original, e mixagem: Conrado Goys (@conza01)
Identidade visual e arte: Glaura Santos (@glaurasantos)
Fotos: Vitor Vieira (@vitorvieirafotografia)
Realização: Comcultura (www.comcultura.com.br)
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