Com o psiquiatra, escritor e jardinista Alexandre Valverde, com a participação especial da psicóloga e sexóloga Ana Canosa.

O episódio #16 do almasculina” traz uma conversa com o psiquiatra, escritor e jardinista Alexandre Valverde, (@ale.valverde) fala sobre jardinismo, sonhos, saúde mental e efeitos da pandemia… Sempre relacionados à sua visão sobre as masculinidades.

A psicóloga e sexóloga Ana Canosa (@anacanosa) é a nossa convidada no “Lugares Comuns”, quadro que dá voz a especialistas, gente que pesquisa e entende muito do assunto, explicando termos, conceitos e ampliando a nossa visão sobre tópicos mais específicos.

Ouça aqui o episódio na íntegra:

– Assista à gravação na íntegra com o Alexandre Valverde e o LUGARES COMUNS, com a Ana Canosa, no nosso canal no Youtube!

– Confira a nossa coluna semanal no nosso blog!

ASPAS

“A cruel pedagogia do vírus”, de Boaventura de Sousa Santos

“Desde o século XVII, o capitalismo, o colonialismo e o patriarcado são os principais modos de dominação. Para dominarem eficazmente, têm de ser, eles próprios, destemperados, ferozes e incapazes de se dominar. Apesar de serem onipresentes na vida dos humanos e das sociedades, são invisíveis em sua essência e na essencial articulação entre elas. A invisibilidade decorre de um sentido comum inculcado nos seres humanos pela educação e pela doutrinação permanentes. Esse sentido comum é evidente e contraditório ao mesmo tempo. Todos os seres humanos são iguais (afirma o capitalismo); mas, como há diferenças naturais entre eles, a igualdade entre inferiores não pode coincidir com a igualdade entre os superiores (afirmam o colonialismo e o patriarcado). (…) O patriarcado induz a ideia de estar moribundo ou enfraquecido em virtude das vitórias significativas dos movimentos feministas nas últimas décadas, mas de fato a violência doméstica, a discriminação sexista e o feminicídio não cessam de aumentar. A astúcia consiste em surgirem capitalismo, colonialismo e patriarcado como entidades separadas que nada têm a ver umas com as outras. A verdade é que nenhum desses “unicórnios” em separado tem poder para dominar. Só os três em conjunto são todo-poderoso. Ou seja, enquanto houver capitalismo, haverá colonialismo e patriarcado. É nas consequências nas quais os três todo-poderosos mostram sua verdadeira face. É esta camada que a grande maioria da população consegue ver, embora com alguma dificuldade. Isso tem hoje duas paisagens principais onde é mais visível e cruel: a escandalosa concentração de riqueza/extrema desigualdade social; a destruição da vida do planeta/iminente catástrofe ecológica. É ante essas duas paisagens brutais que os três seres todo-poderosos e suas mediações mostram aquilo a que nos conduzem se continuarmos a assim considera-los. Mas serão eles todo-poderosos ou a sua onipotência é apenas o espelho da induzida incapacidade dos humanos de combate-los? Eis a questão. (…) Só uma articulação entre os processos políticos e os processos civilizatórios será possível começar a pensar uma sociedade em que a humanidade assuma uma posição mais humilde no planeta que habita. (…) Superaremos a quarentena do capitalismo quando formos capazes de imaginar o planeta como nossa casa comum e a natureza como nossa mãe originária, a quem devemos amor e respeito. Ela não nos pertence. Nós é que lhe pertencemos. Quando superarmos esta quarentena, a do capitalismo, estaremos mais livres das quarentenas provocadas por pandemias”.

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Alexandre Valverde indicou:

– Filme “Shortbus” (2006), de John Cameron Mitchell;

Sofia é uma terapeuta de casais que nunca teve um orgasmo. Entre seus pacientes estão James e Jamie, que mantém uma relação que começa a dar passos maiores. Há ainda Severin, uma dominatrix que mantém sua vida em segredo e não se abre para as pessoas. Eles se encontram regularmente no Shortbus, um clube underground onde arte, música, política e sexo se misturam.

– Livro “Memórias de Adriano”, de Marguerite Yourcenar;

Nesta espécie de autobiografia imaginária, a “grande dama da literatura francesa” recria a notável vida do imperador Adriano, com seus triunfos e reveses, e dá forma a um romance histórico, mas também poético e filosófico, que se tornaria uma das mais fascinantes obras de ficção do século XX.

– Livro “Grande Sertão: Veredas”, de João Guimarães Rosa.

Publicado originalmente em 1956, Grande sertão: veredas, de João Guimarães Rosa, revolucionou o cânone brasileiro e segue despertando o interesse de renovadas gerações de leitores. Ao atribuir ao sertão mineiro sua dimensão universal, a obra é um mergulho profundo na alma humana, capaz de retratar o amor, o sofrimento, a força, a violência e a alegria.

– Paulo Azevedo indicou:

– Dois filmes disponíveis gratuitamente no Festival Varilux em casa, na plataforma Looke:

“Marvin”, de Anne Fontaine 2017) – Marvin Bijou está em fuga: Primeiro de seu vilarejo em Vosges, depois da família, da tirania do pai, da renúncia da mãe e por último da intolerância, rejeição, humilhações as quais era exposto por tudo que faziam dele um rapaz “diferente”. Fora de lá, ele descobre o teatro e aliados que, finalmente, vão permitir que sua história seja contada por ele mesmo.

“Luta de Classes”, de Michel Leclerc (2019) – Corentin, filho de Paul e Sofia, tem um mistério: em sua escola e nos ambientes que frequenta, ele só se relaciona com crianças semelhantes a ele. Na sala de aula, essa identificação – que não se sabe qual – é o ponto que une Corentin a seus amigos. Porém, quando seus colegas se mudam de colégio, o menino passa a ser o único da classe. Qual será a sua grande singularidade, já que crianças costumam não diferenciar gênero, classe social, cor da pele ou religião?

– Livro “Ruptura, Solidão e Desordem – ensaio sobre fenomenologia do delírio”, de Alexandre Valverde

Orientado pelo pensamento de Heidegger, que considera a ontologia como norteadora de toda tarefa de conhecer, o autor nos propõe que a questão do delírio, se pensada de modo compreensivo, inaugura um novo sentido de ser homem. Se, nas palavras do autor, o “delírio é um discurso e, portanto, um falar humano”, é imprescindível que se investigue “Quem é este que delira? Quem é o homem quando delira?”. Dessa maneira, o delírio não é tratado aqui como um acontecimento estranho e bizarro, mas sim como um modo de ser entre outros modos de ser do homem, como um dos fenômenos da linguagem humana. Em vez de buscar um enquadramento categórico do delírio nas diversas síndromes complexas em que se apresenta, este livro vai ao encontro de uma condição existencial, do momento em que o homem delira, para construir seus sentidos.

– Canais “República 1411” e “Incêndios – verso e reverso”, também do Alexandre Valverde;

– Podcast SUPER Terapia.

LUGARES COMUNS com a psicóloga e sexóloga Ana Canosa

Paulo Azevedo: “Quais fatores da sexualidade afetam sobretudo a saúde do homem? O caso da disfunção erétil, as questões psicológicas… Quais os aspectos que você vê de perto nessa sua trajetória em relação à saúde do homem?”

Ana Canosa: “Mas você fala a saúde física ou emocional?”

Paulo Azevedo: “As duas”.

Ana Canosa: “Fisicamente, problemas cardiovasculares, doenças crônicas como diabetes, neurológicas, obesidade, alcoolismo, dependência química… Tudo isso pode afetar a sexualidade. Isso, estamos falando do pacote físico. Falta de cuidado com a alimentação, com a higiene. Então, se a gente pensar que a gente tem 1.600 amputações de pênis no país, principalmente, no Norte e no Nordeste do Brasil por causa de câncer de pênis por ocasião de falta de higiene que é uma das causas. Isso mostra o quanto os homens negligenciam o próprio corpo. O distúrbio androgênico vai falar da diminuição de hormônio masculino pra além dos níveis normais. Porque os homens tem produção de testosterona a vida toda. Isso faz com que o homem produza espermatozoide a vida toda. Só que a gente espera que o nível de testosterona vá diminuindo gradativamente ao longo da idade. Você tem ali uma taxa de diminuição. Quando você tem essa diminuição fora da época aos 40, 50 anos, você tem um distúrbio androgênico. Porque que a gente não fala disso? Porque os programas de TV que falam disso são voltados para as mulheres. Se você pensar: onde a gente tá discutindo isso? Nesses programas femininos da manhã. Quando eu falo ‘femininos’ porque mais as mulheres assistem do que os homens. É curioso isso. Quem está aprendendo sobre isso são as mulheres. (Os homens) é como se ele tivesse um domínio… Sei lá, espiritual do corpo…”.

Paulo Azevedo: “Extra físico”.

Ana Canosa: “Extra físico do corpo que vai provocar também uma ideia de dissociação completa porque é esse corpo que me leva e traz. Então, faz todo sentido eu cuidar dele. Os homens tem essa dissociação, né? Às vezes eu sinto que os homens funcionam no mundo por meta. Isso me irrita um pouco e, ao mesmo tempo, me deixa sensibilizada. Porque a vida não é a meta. A vida é o processo.  Então, os homens trabalham com a meta. ‘A minha meta é ter 3 milhões até os 40 anos na conta, chegar na carreira a tal coisa, é terminar meu trabalho hoje e trazer dinheiro pra casa’. Os homens trabalham com a meta, trabalham com o fim. Eles são estimulados a trabalhar de maneira binária – certo e errado, sim e não, e com o fim. E eles abandonam o processo. Muitas vezes eles negligenciam o processo”.

Paulo Azevedo: “Como se a vida fosse tão controlável assim”.

Ana Canosa: “Fosse controlável e só isso. Então, é interesse que você traz uma angústia para um homem, traz um sentimento, o cara não sabe o que falar, ele vai pro fim. ‘Não, mas tá tudo bem, isso aqui você faz assim’. Ou: ‘Nossa, o meu amigo tá tirando sarro de mim na escola’. ‘Dá porrada nele’ ou ‘Tira sarro também’. É sempre assim a resposta. Nunca é: “Como é que você se sente? Puta, que sacanagem, né? Como é que é? Você também faz? Como tá isso lá na sua sala de aula, vamos falar sobre isso. Tirar sarro com o quê? Tá rolando com todo mundo? Você também tá tirando sarro? Como é que você se sente?’.   

Paulo Azevedo: “Ampliar o discurso”.

Ana Canosa: “Ampliar o discurso. Não é assim. Então, os homens são mais negligentes com o próprio corpo. E são negligentes totais com as emoções”.

Paulo Azevedo: “Quando isso acontece, Ana, na trajetória de um menino, por exemplo?”.

Ana Canosa: “Agora… Começa nos sete anos, na hora do grupo, do fortalecimento social. O grupo dos meninos, o grupo dos iguais. Começa nos sete, aos onze, doze anos… É muito forte essa perda porque o grupo social traz muito… Aí ele vai pedir essa negação que a gente falou: ‘Não seja bichinha; não seja isso; não seja aquilo…’. Começam as disputas de poder: quem é melhor no futebol, quem não é. Então, começa a sacanagem. É impressionante como os homens como eles são incapazes de falar de emoção e já tem que ser sacana”.

almasculina é feito por:

Idealização, roteiro, edição e apresentação: Paulo Azevedo (@pauloazevedooficial)

Trilha sonora original, e mixagem: Conrado Goys (@conza01)

Identidade visual e arte: Glaura Santos (@glaurasantos)

Fotos: Vitor Vieira (@vitorvieirafotografia)

Realização: Comcultura.

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TAGS: #podcast #masculino #homem #saudemental #covid-19

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