Com o profissional de marketing e criador do “Sonhei Ser Pai”, Felipe Pontual, e a participação especial do professor e pesquisador Fábio Mariano da Silva. 

O episódio #28 do almasculina” traz uma conversa com o profissional de marketing e criador do “Sonhei Ser Pai”, Felipe Pontual (@fepontual @sonheiserpai),  fala sobre paternidade, privilégios, desafios da pandemia, preconceitos no marketing e esporte… Sempre relacionados à sua visão sobre as masculinidades.

O professor e pesquisador Fábio Mariano da Silva (@fabioms08) é o nosso convidado no “Lugares Comuns”, quadro que dá voz a especialistas, gente que pesquisa e entende muito do assunto, explicando termos, conceitos e ampliando a nossa visão sobre tópicos mais específicos.

Ouça aqui o episódio na íntegra:

– Assista à gravação na íntegra e o LUGARES COMUNS, com o Fábio Mariano da Silva, no nosso canal no Youtube!

– Confira a nossa coluna no nosso blog! 

ASPAS 

– Artigo “Paternidades Possíveis”, de Ismael dos Anjos, publicado no Elástica Oficial:

Embora novos referenciais estejam surgindo na cultura pop (passamos do pai que não sabe trocar uma fralda à escala Rodrigo Hilbert de pai completo), a conversa ainda precisa partir do básico. Em um contexto de ausência paterna, seja física ou emocional – herança de uma paternidade baseada tão somente em procriar, prover e proteger –, assumir as responsabilidades objetivas e demandas subjetivas que vêm com a consciência de que sim, o filho também é seu, continua a ser uma pendência para a maior parte dos homens.  A resistência em usufruir até mesmo dos direitos garantidos por lei demonstra isso. Realizado em sete países incluindo o Brasil, o “3° Relatório Situação da Paternidade no Mundo”, do Instituto Promundo, mostra que 82% dos pais brasileiros dizem que fariam qualquer coisa para se envolverem muito nas primeiras semanas e meses de cuidado com um filho ou filha. No entanto, apenas 32% dos trabalhadores brasileiros utilizam por completo os 5 dias de licença-paternidade legalmente previstos. Ao todo, 27% não tiram um dia sequer.  

Para além de políticas públicas e econômicas que estimulem a paternidade – um homem que tem apenas 5 dias de licença remunerada para ficar próximo à família que acabou de mudar para sempre recebe indiretamente o recado de que o lugar dele não é ali — uma mudança de cultura se faz necessária. Nesse sentido, um dos primeiros passos para os pais de hoje é, justamente, sair da sombra dos pais que eles tiveram.

Consultor sênior de Programas do Promundo e pai da Laura há menos de um ano, Luciano Ramos testemunha a prática no trabalho e também vive isso na pele. “Eu não tive a presença do meu pai em todo o meu desenvolvimento, desde o meu nascimento. Essa sempre foi uma pauta difícil pra mim, e me fez não querer me conectar com a temática durante muitos anos. A naturalização e até a banalização da ausência paterna guarda em si, muitas vezes, a incapacidade que temos de lidar com toda a carga emocional que esta ausência significa. Meu pai não esteve presente no meu desenvolvimento e de minha irmã (já que somos gêmeos) por questões financeiras. A ausência dos pais pretos, em muitas situações, se conecta com o racismo estrutural que têm vários desdobramentos na vida deste homem e, por consequência, na vida de seus filhos e suas filhas. Conseguir entender isso levou muito tempo e e muitas análises. Eu tento fazer diferente. Sou presente integralmente na criação da minha filha. A ausência do meu pai me fez perceber o quanto era necessário estar presente na vida dela”, diz.  

ESCUTA AQUI

Felipe Pontual indicou:

– Documentário e série “O Começo da Vida” (2016), de Estela Renner:

Passando pelos quatro cantos do mundo, o documentário faz uma análise aprofundada e um retrato apaixonado dos primeiros mil dias de um recém-nascido, tempo considerado crucial pós-nascimento para o desenvolvimento saudável da criança, tanto na infância quanto na vida adulta. Disponível no Video Camp e na Netflix;

Série “This is US” (20160-2020), criado por Dan Fogelman:

A premiada série, que chega à 5ª temporada, apresenta a história de três pessoas nascidas no mesmo dia, dois homens e uma mulher. A trama navega entre os anos 1980 e os dias atuais da Família Pearson, mostrando a infância de cada uma delas em contraste com a vida adulta, marcada por uma grande tragédia familiar. Disponível no Prime Video da Amazon e na Fox;

⁃ Documentário “Emicida: AmarElo – É Tudo Pra Ontem” (2020), dirigido por Fred Ouro Preto:

A gravação do show que o rapper fez em novembro de 2019 no Theatro Municipal de São Paulo se mistura, com historiografia da negritude brasileira, reparação histórica, análise sociológica, autobiografia e, eventualmente, no meio disso tudo, um registro de making-of. É expressão de uma pretensão artística da mesma forma que é expressão de uma urgência no discurso. Emicida é personagem e narrador, ele se coloca como a figura capaz de personificar e organizar essa variedade de registros, porque antes de mais nada o rapper, com sua fala tranquila, faz aqui a voz da razão. Disponível na Netflix; 

– Livro “Para educar crianças feministas”, de Chimamanda Ngozi Adichie: 

Após o enorme sucesso de Sejamos todos feministas, Chimamanda Ngozi Adichie retoma o tema da igualdade de gêneros neste manifesto com quinze sugestões de como criar filhos dentro de uma perspectiva feminista. Escrito no formato de uma carta da autora a uma amiga que acaba de se tornar mãe de uma menina, Para educar crianças feministas traz conselhos simples e precisos de como oferecer uma formação igualitária a todas as crianças, o que se inicia pela justa distribuição de tarefas entre pais e mães. E é por isso que este breve manifesto pode ser lido igualmente por homens e mulheres, pais de meninas e meninos. Partindo de sua experiência pessoal para mostrar o longo caminho que ainda temos a percorrer, Adichie oferece uma leitura essencial para quem deseja preparar seus filhos para o mundo contemporâneo e contribuir para uma sociedade mais justa.

– Paulo Azevedo indicou:

Episódio #280 do podcast Mamilos – “Assédio Sexual: o que fazer?”

A revista Piauí publicou na sua edição de dezembro uma extensa matéria apresentando detalhes de assédios sexuais cometidos por Marcius Melhem, diretor, ator e roteirista dos principais programas humorísticos da Globo. A matéria trouxe o assédio sexual para o centro do debate público essa semana. Uma pesquisa conduzida pelo Think Eva, e pelo LinkedIn traçou o cenário do assédio sexual em ambientes profissionais e mostrou que quase metade das mulheres ouvidas já sofreu assédio sexual. Para mapear esse cenário e conversar sobre estratégias de transformação convidamos Maíra LiguoriAna Claudia Plihal e a advogada Claudia Luna.

LUGARES COMUNS com o Fábio Mariano da Silva sobre “Educação Sexual para Adolescentes e Jovens”:

Paulo Azevedo: “Fábio, você vislumbra ou tem algum modelo ou referencial, no Brasil, de educação sexual para jovens ou adolescentes que tenha um aspecto já pautado, num lugar menos influenciado das religiões ou do Estado? Existe esse lugar ou existe esse modelo de educação?”.

Fábio Mariano da Silva: “Eu não consigo vislumbrar. Embora, eu não vislumbre neste momento, mas a gente saiba, por exemplo, da constituição de grupos organizados para novos modelos de educação. Você precisa romper, você insurgir, você precisa transgredir o modelo de educação, que é o modelo de educação estritamente formal e que se dá dentro das escolas e, principalmente, em escolas, por exemplo, que tem única e exclusivamente o intuito de fazer que com que seu filho ou sua filha ingresse num processo seletivo de vestibular, numa das melhores universidades, com as carreiras que eles querem, são carreiras tradicionais e assim por diante. Modelos de educação a gente tem que criar a partir do quê? A partir desses avanços que a gente vai fazendo dentro do movimento político. Porque a política, ela é o exercício daquilo que vai fazer você chegar no bem comum. O bem comum é aquilo que você partilha dentro da sua comunidade, como referencial. Quando é que você atinge o bem comum, quando você tem políticas públicas que são adequadas. Para você fazer isso, você precisa fazer uma transgressão, você precisa desconstruir este modelo que é o modelo hegemônico. Então, quando você tem pais e mães que falam com filhos sobre educação sexual… quando você tem pais e mães que falam com filhos sobre o respeito à religião, a qualquer tipo de religião sem que você precise impor outro, que você precise penalizar, culpabilizar o outro, e assim por diante, você está fazendo o que, instituindo um novo modelo a gente tem muitas organizações sociais, a gente tem muitos coletivos na periferia, muitos coletivos negros, trans, que vão educando crianças e jovens para um novo modelo de inserção, mas eu sou pessimista, porque, ao mesmo tempo você vê ataques frontais a educação e a esses modelos que são modelos transgressores, que querem reafirmar uma caixa de costumes do que é ser homem, o que é ser mulher de como um homem deve ser educado, como uma mulher deve ser educada. E isso vai fazer, por exemplo, com que a gente regrida a o invés de avançar, mas há muitos modelos, especialmente, modelos que não estão de fato ainda formalizados, Eu sempre gosto de pensar que nós temos avançado e avançado bastante, em termos de discussão identitária: quem sou eu? A que grupo pertenço? O que eu vou fazer? O que eu quero requerer?  Assim por diante, mas a gente não pode deixar de perceber que para cada avanço a gente tem um retrocesso do ponto de vista legal, do ponto de vista econômico, do ponto de vista político e você precisa tirar essas diferenças do campo político, porque você precisa tirar essas diferenças do campo educacional, então isso torna mais difícil. Mas do ponto de vista coletivo, muitas ações têm sido pensadas, muitos autores têm se lançado, muitos intelectuais têm se mostrado, em termos de teoria. Nós temos do ponto de vista da arte muitas universidades, e do ensino, especialmente, é lido autores e autoras latino americanas, então você diz: “isso é um avanço”. Porque faz com que você questione o modelo universal, porque embora você tenha falado de educação sexual, tudo isso vai reverberar numa norma, por quê? Porque há uma norma dada pela heterossexualidade, que ela vai dizer quem é, quem não é e quem pode ser, e todo aquele que não cumpre essa regra heteronormativa vai ser excluído, tudo que isso vai incidir do ponto de vista do papel que o Estado vai exercer em relação a homens e mulheres. E daí reconhecer essas diferenças é uma coisa que tem sido feita, você vai às redes, você ouve falar nas transexualidade em crianças, você ouve falar, por exemplo, em crianças LGBT, adolescentes você ouve falar sobre uma linguagem masculina ou feminina ou neutra ou não binária ou binária, ou assim por diante. Os termos são muitos, as colocações são muitas, Então, é importante a gente perceber, que esses avanços existem, mas que eles a todo o momento do ponto de vista formal, eles vêm sido segurados”.

Paulo Azevedo: “É o tal movimento pendular da História. Sempre quando tem um avanço, uma reação, vem uma contra reação. Que é o que a gente tá vendo dos últimos anos ou décadas”.


Fábio Mariano da Silva: “É. É um pouco do que acontece com o movimento de homens. Um jornalista uma vez me perguntou: “mas você acha que o avanço dos homens discutirem masculinidades diz respeito às redes sociais?” Não. O avanço dos homens discutirem masculinidades diz respeito à luta das mulheres. Porque o que acontece, cada vez que as mulheres vão às ruas reivindicar direitos, os homens são sacudidos, porque eles dizem, “bom o que está acontecendo que elas estão na rua?” A rua é um espaço masculino, a rua é um espaço pros homens. Qual é a alternativa que eles tem. Se repensar e quando eles se repensam ou eles aderem ao movimento em torno da equidade de gênero ou eles vão recrudescer e dizer não, isso é um absurdo, não pode e tal, mas a gente tem que dar essa chacoalhões. Todas as crises que os homens viveram, suas crises de identidade, foram dadas no momento em que as mulheres estavam indo pras ruas reivindicar direitos do ponto de vista histórico. Então, o homem criou a guerra por quê? Porque existe uma crítica, especialmente, entre americanos e europeus que dizia o quê? Ah, os homens europeus estão ficando muito afeminados. E era um prazer, que o quê?. Quando a guerra estourou, os homens foram pra guerra. Era a hora de mostrar sua masculinidade, era forma de mostrar o espírito combativo. Os homens se reveem quando as mulheres se movimentam.”   

almasculina é feito por:

Idealização, roteiro, edição e apresentação: Paulo Azevedo (@pauloazevedooficial

Trilha sonora original, e mixagem: Conrado Goys (@conza01

Identidade visual e arte: Glaura Santos (@glaurasantos

Fotos: Vitor Vieira (@vitorvieirafotografia

Realização: Comcultura.

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