Com o teólogo, pedagogo e ativista Padre Júlio Lancellotti e a participação especial do professor e pesquisador Fábio Mariano da Silva.

O episódio #38- Parte 2 do @almasculina com o teólogo, pedagogo e ativista Padre Júlio Lancellotti (@padrejulio.lancellotti) , que fala sobre pandemia, religião e espiritualidade, população em situação de rua, lgbtfobia… Sempre relacionados à sua visão sobre as masculinidades.

O professor e pesquisador Fábio Mariano da Silva (@fabioms08) é o nosso convidado no “Lugares Comuns”, quadro que dá voz a especialistas, gente que pesquisa e entende muito do assunto, explicando termos, conceitos e ampliando a nossa visão sobre tópicos mais específicos.

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– Ouça aqui o episódio na íntegra:

– Assista à gravação na íntegra e o “Lugares Comuns”, com o Fábio Mariano da Silva, no nosso canal no Youtube!

LUGARES COMUNS

LUGARES COMUNS com o Fábio Mariano da Silva sobre “Escalas de privilégios e raça”:

Paulo Azevedo: “Raça sempre vem antes de gênero e orientação sexual nessa escala, independentemente da leitura que a gente tenha sobre ela.”

Fábio Mariano da Silva: “Então, se você fala que raça, sempre vem antes, eu acho que raça estrutura as nossas relações, especialmente numa sociedade, que é uma sociedade colonizada, numa sociedade em que os europeus, chegaram, ocuparam os espaços, estupraram nossas mulheres, os nossos corpos, a nossa terra, os nossos povos originários, assim por diante. A gente pode dar várias interpretações a respeito do que seja o estupro, né? Mas eu costumo dizer, que muitas vezes você vai para a periferia e você encontra famílias brancas. Você encontra famílias brancas que também não têm condições de acesso à educação, saneamento, à saúde, assim por diante. Então você vai dizer, o recorte racial, vai dizer o quê. Que na periferia se concentra um grande número ou a maior parte da população negra. Mas dentro desse recorte, também, terá muitas mulheres, tendo desse recorte, também terão famílias brancas, mas é claro que a raça, ela vai estruturar. A gente sempre diz, de muitos pensadores, bell hooks e todas as feministas negras vão dizer, all the board, que não podemos criar uma escala de opressão, mas a gente precisa estar atento a elas, por quê? Porque a gente precisa descobrir de onde vêm as opressões. Como é que elas surgem e como é que ela vai pegar nos grupos. Mas o racismo ou a forma de opressão da pessoa branca, mesmo periférica, ela será diferente de uma pessoa negra. Ela vai se dar de uma maneira que é muito diferente. Essa pessoa negra, ela sofrerá muito mais. Essa pessoa negra será alvo muito mais de batidas policiais, jovens negros são lavo de balas perdida de uma maneira que morrem muito mais que jovens brancos. Isso não é também quer fazer uma escala, por exemplo. Por que a morte deve atingir determinado grupo, não! O que a gente precisa é parar essa política de morte que se dá nas nossas periferias, nos nossos grupos, assim por diante. Então, eu não gosto da classificação, embora ela seja necessária, para apontar que pessoas negras ainda sofrem muito mais violência por parte do Estado. O Estado ainda é muito mais conivente, mas a gente não pode esquecer que há pessoas brancas. Hoje eu li um texto em uma revista, o texto falava da necessidade de que a gente acorde, faça um acordo. E a gente precisa criar essas estratégias mesmo, por quê? Porque sendo negro você precisa acordar com os seus, mas sendo negro e pobre, você precisa pegar com os seus, com as pessoas que são pobres também, que são brancas, são mulheres, são indígenas, e dizer assim, nós vamos juntar aqui, porque nós estamos fora do mercado de trabalho, estamos fora da escala de direito, estamos fora do exercício desses direitos dentro da sociedade. Ou seja, estão usurpando o espaço que também seria nosso. Então, a raça, ela estrutura de fato. Mas eu não costumo falar muito dessa escala embora ela seja muito importante, porque nós precisamos identificar como é que as opressões vão pegar cada um desses sujeitos. Se você vai falar das pessoas negras, você vai falar das pessoas pelo viés do racismo, se você vai falar de mulheres você também vai falar pelo viés racismo, mas sobre a questão de gêneros, se você vai falar dos periféricos, você vai falar da questão de raça, gênero e classe. Você precisa ir descobrindo qual é a raiz da opressão para que a gente possa de fato pleitear políticas, políticas que sejam de acesso reconhecendo nossas diferenças.”

Paulo Azevedo: “E ela traz uma consciência também sobre os privilégios que às vezes você nem percebe que tem, nessa estrutura social.”

Fábio Mariano da Silva: “Exatamente! E do ponto de vista histórico, da nossa civilização, e de como a gente se constituiu como povo e tudo mais, é evidente que as pessoas negras, a população negra, é muito mais usurpada em termo de direito. E veja como essa questão do privilégio ela é importante de ser pensada. Porque eu me identifico como homem negro de pele clara, eu venho de uma família negra periférica. Mas é claro que eu não sofri determinadas opressões em razão do tom da minha pele, da tonalidade da minha pele. Porque eu tenho a pele clara, então eu tinha uma coisa, que é a passabilidade, você começa a ser identificado. E é importante que ao ser identificado você assuma uma postura e assuma uma identidade, porque se você não faz isso também, o risco que você corre é de assentir com o racismo e ser conivente com a branquitude. Porque a branquitude vai bater nas usas costas e vai dizer, ah, você não é um homem negro retinto, você não é um preto retinto, então você pode chegar até aqui, você pode ter determinado acesso e assim por diante. E de fato na escala de cores, de tonalidades você terá privilégios que um retinto não teve e você precisa ter essa consciência, porque justamente para dizer: Não! Direitos e reparação histórica em primeiro lugar para essas pessoas que sofreram mais.”

almasculina é feito por:

Idealização, roteiro, edição e apresentação: Paulo Azevedo (@pauloazevedooficial).

Trilha sonora original e mixagem: Conrado Goys (@conza01).

Identidade visual e arte: Glaura Santos (@glaurasantos).

Fotos: Vitor Vieira (@vitorvieirafotografia).

Realização: Comcultura (www.comcultura.com.br).

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