Com o psicoterapeuta e criador do Ressignificando Masculinidades, Fabio Sousa, e a participação especial do cientista PhD e Co-host Podcast Naruhodo Altay de Souza

O episódio #42 – Parte 1 do @almasculina com o psicoterapeuta e criador do @ressignificando_masculinidades, Fabio Sousa (@fabiosssousaa), que fala sobre referências de masculinidades, sexualidade, machismo, racismo, pornografia… Sempre relacionados à sua visão sobre as masculinidades.

O cientista PhD e Co-host Podcast Naruhodo Altay de Souza (@altayals) é o nosso convidado no “Lugares Comuns”, quadro que dá voz a especialistas, gente que pesquisa e entende muito do assunto, explicando termos, conceitos e ampliando a nossa visão sobre tópicos mais específicos.

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– Ouça aqui o episódio na íntegra:

– Assista à gravação na íntegra no nosso canal no Youtube!

ASPAS 

“Como a mãe faz a criança dentro de seu corpo, os domínios que lhe pertencem são em geral considerados como interiores, enquanto os do pai permanecem exteriores. E como o desenvolvimento da criança no meio familiar, as coisas permanecerão dessa forma: ela terá muito a fazer com sua mãe e bem pouco com seu pai.

A consequência primordial disso é que os filhos não se desenvolverão positivamente em relação ao corpo do pai, mas ainda mais negativamente contra o corpo da mãe e o corpo feminino. É aí mesmo, nesse local preciso, que a história de amor entre a mãe e o filho torna-se uma luta de poder: é aí mesmo que o filho começa sua guerra contra a mulher. O mais surpreendente é que essa guerra dos sexos é baseada em um total desprezo, querendo que o reino do corpo, dos sentimentos e do carinho pertença exclusivamente às mulheres, e o do espírito, do mundo, do mundo exterior e do trabalho, exclusivamente aos homens, embora isso não convenha a ninguém. (…)

A primeira consequência do abandono dos filhos aos cuidados exclusivos da mãe é o medo das mulheres e, sobretudo, o medo de ser uma delas; a segunda consequência é que, durante toda a sua vida, eles terão medo do corpo, tanto das mulheres como do deles. (…) O medo de ser homossexual está enraizado tão profundamente no homem, sua presença tão insidiosa e perpétua, que acaba por assombrar todas as relações de amizade que os homens têm entre eles; ela envenena toda possibilidade de um erotismo masculino, e é ainda ela que impede muitos pais de tocar seus filhos.

Os homens são pegos em uma verdadeira camisa de força. Assim que aflora o domínio de sua sensibilidade, o homem se vê confrontando com sua homossexualidade latente, ainda mais poderosa se considerarmos que toda a sua sensualidade potencial se refugiou ali. No limite, se quiser se reapropriar de seus sentidos, sua única opção será tornar-se homossexual ou arriscar ser visto como tal por outros homens, às vezes, até por mulheres. (…)

A homossexualidade exprimiria a necessidade de uma ancoragem no masculino, no que é igual a si; ela traduziria, por isso mesmo, até a busca inconsciente pelo pai, a procura de uma identidade masculina. Se tivesse havido, por parte do pai em relação ao filho, a afeição física que estimula a possibilidade de identificação, pode-se questionar se muitos homens que decidiram viver a homossexualidade para poder exprimir sua sensibilidade não teriam feito escolhas diferentes.

Assim como a maioria dos homens, os homossexuais são não só filhos que tentam ainda livrar seu corpo da dominação materna, como homens que não aguentam mais ter de viver segundo as imposições ridículas de uma sociedade que os proíbe de ter acesso a seus sentimentos. Hoje discriminados por uma sociedade que não compreende como pode ter produzido tantos deles, os homossexuais talvez estejam na linha de frente da luta dos homens pela reapropriação de seus corpos. (…)

No meio dessa compensação exterior, os filhos carentes evitam sentir sua grande sede de amor e de compreensão, sua profunda necessidade de ser tocados, de amar e de ser amados. É difícil para eles transparecer esses sentimentos que os mergulham em uma vulnerabilidade difícil de assumir. A assinatura do pai ausente se torna a fragilidade da identidade masculina de seus filhos”.

ESCUTA AQUI

Fabio Sousa indicou:

– Filme “Paterson” (2017), de Jim Jarmusch:

Na cidade de Paterson, em Nova Jersey/EUA, Paterson, um pacato motorista de ônibus local, vira um personagem conhecido por se destacar em uma arte diferente da condução de veículos: o rapaz é também um poeta. Disponível no Amazon Prime Video.

– Filme História de um Casamento” (2019), de Noah Baumbach:

Nicole (Scarlett Johansson) e seu marido Charlie (Adam Driver) estão passando por muitos problemas e decidem se divorciar. Os dois concordam em não contratar advogados para tratar do divórcio, mas Nicole muda de ideia após receber a indicação de Nora Fanshaw (Laura Dern – vencedora do Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante), especialista no assunto. Surpreso com a decisão da agora ex-esposa, Charlie precisa encontrar um advogado para tratar da custódia do filho deles, o pequeno Henry. “História de um casamento” é baseado na vida do diretor e roteirista Noah Baumbach. Disponível na Netflix.

– Livro “Diálogos Contemporâneos Sobre Homens Negros e Masculinidades”, organizado por Henrique Restier e Rolf Malungo de Souza (Ciclo Contínuo Editorial):

A proposta deste livro que em breve estará em suas mãos se insere na dinâmica entre relações raciais e gênero. O levantamento bibliográfico indica um amplo campo investigativo ainda a ser explorado sobre as masculinidades negras, suas construções e particularidades, sobretudo, no Brasil. Usualmente, as abordagens que relacionam as categorias de raça e gênero recaem sobre o feminino negro. Nada mais legítimo, uma vez que as interrogações sobre gênero, papéis sexuais e as desigualdades que daí advêm, tiveram seu marco teórico no Ocidente com o feminismo, que fomentou a desnaturalização dos gêneros e, portanto, sua historicidade e questionamento. Consequentemente, o objeto principal de suas maiores preocupações incide sobre a mulher branca, enquanto o feminismo negro e o mulherismo africana, na mulher negra, logo, os homens negros e brancos tendem a aparecer em segundo plano nesses arcabouços teóricos. Não obstante, os homens brancos de classe média geralmente são vistos como não possuíssem gênero, como se fossem a referência universal de ser humano, o que não acontece com os homens negros, gays, pobres etc. Esta é uma das razões sobre a necessidade de pesquisas que contemplem masculinidades, destacando marcadores sociais de diferença e seus aspectos relacionais.

– Livro “O Avesso da Pele”, de Jeferson Tenório (Editora Companhia das Letras):

O avesso da pele é a história de Pedro, que, após a morte do pai, assassinado numa desastrosa abordagem policial, sai em busca de resgatar o passado da família e refazer os caminhos paternos. Com uma narrativa sensível e por vezes brutal, Jeferson Tenório traz à superfície um país marcado pelo racismo e por um sistema educacional falido, e um denso relato sobre as relações entre pais e filhos. O que está em jogo é a vida de um homem abalado pelas inevitáveis fraturas existenciais da sua condição de negro em um país racista, um processo de dor, de acerto de contas, mas também de redenção, superação e liberdade. Com habilidade incomum para conceber e estruturar personagens e de lidar com as complexidades e pequenas tragédias das relações familiares, Jeferson Tenório se consolida como uma das vozes mais potentes e estilisticamente corajosas da literatura brasileira contemporânea.

– Documentário “Emicida: AmarElo – É Tudo Pra Ontem” (2020), dirigido por Fred Ouro Preto:

O filme traça com exímia fluidez diversos paralelos entre o presente e o passado, focando na luta de personalidades negras que com muita coragem e determinação abriram caminho para as futuras gerações. Seguindo essa abordagem, o estreante na direção, Fred Ouro Preto, adota uma estrutura narrativa não linear e fragmentada que visa sobretudo explicar o fenômeno que culminou no show do rapper Emicida em 2019 no Theatro Municipal de São Paulo – espaço majestoso frequentado majoritariamente pela elite branca paulistana, muito embora construído e arquitetado por pessoas pretas convenientemente apagadas da nossa história.Disponível na Netflix.

Paulo Azevedo indicou:

– Filme “Judas e o Messias Negro” (2020), de Shaka King:

Judas e o Messias Negro é a história de ascensão e queda de Fred Hampton, ativista dos direitos dos negros e revolucionário líder do partido dos Panteras Negras. Um jovem proeminente na política, ele atrai a atenção do FBI, que com a ajuda de William O’Neal acaba infiltrando os Panteras Negras e causando o assassinato de Hampton. O filme conquistou, dentre outros prêmios, o Oscar deste ano de Melhor ator coadjuvante para Daniel Kaluuya. Disponível no Youtube Play, Now, Looke e Google Play.

– Filme “O Discípulo” (2021), de Chaitanya Tamhane:

Acompanha a vida de Sharad, um jovem que sonha se tornar um vocalista de música clássica indiana, seguindo as tradições e disciplina de antigos mestres, seu guru e seu pai. Mas com o passar dos anos, ele começa a se perguntar se é realmente possível alcançar a excelência pela qual ele se esforça. Um filme sobre conquistas e medos, que ganham mais camadas quando colocados em contraste com a cultura indiana. Ideal para fãs de música e, acima de tudo, que gostam de filmes com bons comentários sociais. Disponível na Netflix.

– Filme “M-8: quando a morte salva a vida” (2020), de Jeferson De:

O filme aborda questões importantes sobre etnia e uma sociedade racista por meio da história de Maurício: jovem que acabou de ingressar na renomada Universidade Federal de Medicina. Na sua primeira aula de anatomia ele conhece M8, o cadáver que servirá de estudo para ele e os amigos. Durante o semestre, o mistério da identidade do corpo só poderá ser solucionado depois que ele enfrentar suas próprias angústias. O filme é baseado no livro homônimo de Salomão Polakiewicz aborda relação inter-racial e racismo, violência policial contra a população preta, religiosidade e ancestralidade. Disponível na Netflix.

– Série “8 em Istambul” (Ethos), de Berkun Oya e Ali Farkhonde:

A série constrói mosaico psicológico e cultural da Turquia. Adoecidos pelo clima de medo, insegurança e ressentimento, os personagens vivem o avanço do conservadorismo do atual presidente. Mostra como o autoritarismo pode ser um adoecimento coletivo. A série traz uma apresentação profunda e complexa dos conflitos psicológicos dos personagens centrais, atrelados à protagonista, Meryem, uma estudante pobre de uma família conservadora residente na área rural de Istambul. A expressão e a fala são os temas centrais. Afinal o que pode acontecer quando reprimimos as nossas emoções? Muitos psiquiatras concordam que todos nós podemos adoecer quando permanecemos em silêncio. E, é exatamente isso o que ocorre com os personagens de 8 em Istambul. Disponível na Netflix.

almasculina é feito por:

Idealização, roteiro, edição e apresentação: Paulo Azevedo (@pauloazevedooficial).

Trilha sonora original e mixagem: Conrado Goys (@conza01).

Identidade visual e arte: Glaura Santos (@glaurasantos).

Fotos: Vitor Vieira (@vitorvieirafotografia).

Realização: Comcultura (www.comcultura.com.br).

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