Com o Doutor em Saúde Pública e Especialista em Envelhecimento Alexandre da Silva e a participação especial da psicanalista, escritora, jornalista Maria Rita Kehl

O episódio #53 – Parte 1 do @almasculina traz o Doutor em Saúde Pública e Especialista em Envelhecimento Alexandre da Silva (@alexandrefisio), que fala sobre esporte, vínculos afetivos, envelhecimento da população negra, desigualdade, saúde integral… Sempre relacionados à sua visão sobre as masculinidades.

A psicanalista, escritora, jornalista e integrante da Comissão Nacional da Verdade (2012-14) Maria Rita Kehl (@mariaritakehl.oficial) é a nossa convidada no “Lugares Comuns”, quadro que dá voz a especialistas, gente que pesquisa e entende muito do assunto, explicando termos, conceitos e ampliando a nossa visão sobre tópicos mais específicos.

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– Ouça aqui o episódio na íntegra:

– Assista à gravação na íntegra no nosso canal no Youtube!

LUGARES COMUNS com a psicanalista, escritora, jornalista e integrante da Comissão Nacional da Verdade (2012-14) Maria Rita Kehl (@mariaritakehl.oficial) sobre “Masculinidades e desigualdade”:

Paulo Azevedo: “E, na pandemia do Covid-19 a gente viu escancarado, a invisibilidade de diversos grupos sociais, né, entre eles a população negra, os indígenas, e esse quadro somado a um governo que deixa morrer por meio de ações, omissões, discursos, comprovados, aí, na investigação da CPI, e tem um resultado que é o adoecimento físico, mental, e mais mortes por causa natural. Eu queria saber sua opinião, como você percebe esse impacto dessas desigualdades na saúde mental da população, principalmente, no caso dos homens que não têm uma educação para identificar as próprias emoções, os próprios sentimentos e afetos”.

Maria Rita Kehl: “A questão das populações indígenas, enfim, talvez seja uma outra conversa, porque na comissão da verdade veio o que aconteceu na ditadura com as populações indígenas, e a única coisa que eu quero dizer, é que aqui parece que está muito parecido com o que foi na ditadura ou talvez esteja pior, porque na ditadura não houve um projeto de extermínio, no sentido explícito, como hoje o presidente explicita. É que as aproximações com as comunidades isoladas eram feitas sem que as pessoas fossem vacinadas. Então, já se sabia desde os irmãos Vilas boas que os indígenas não tinham imunidade para as nossas doenças. Então, a estimativa que nós fizemos na Comissão da Verdade, não fui eu que fiz, eu fui muito amparada pelo estudo ambiental, pelo Evandro Sacarelli, por muitos estudiosos dessa questão, porque eu caí ali para começar do zero. Mas morreram muito mais indígenas de gripe sarampo, catapora, varíola, 8 mil é a estimativa. É o maior grupo de vítimas da ditadura. E as pessoas diziam, mas os índios estavam contra a ditadura? Por que vocês estão pesquisando os índios, eu tinha que explicar. Eles não eram contra a ditadura, eles nem sabiam, como disse o Davi Ianomâmi, num depoimento que ele fez para nós. Sabia que havia governo, não era soberano na minha terra, eu fiquei sabendo que havia governo quando eles derrubaram nossa floresta, poluíram nossos rios com mercúrio do garimpo e mataram nossas parentes de gripe., com as doenças de branco. Veja como eles foram integrados à sociedade brasileira. E, sim, isso se repete, a diferença é que poucas tribos estão isoladas como elas eram. Então, a morte por doença de branco, não é a principal causa de morte. Agora, que eles estão perdendo suas terras, suas matas estão sendo queimadas de uma maneira, como dizer, obsceno, não é nem ao menos uma coisa disfarçada em progresso, tem uma voracidade do agro e tem maldade mesmo. Eles são sub brasileiros, são sub-raça, que se danem, é muito revoltante! É muito revoltante, eu fico triste só de falar nisso”.

Paulo Azevedo: “E em relação a essa questão que você estuda a tanto tempo que é a questão da depressão, como é possível, os homens de agora, diagnosticarem isso, diferente de uma tristeza, porque o panorama, o espectro emocional dos homens é muito reduzido, como é que eu faço para identificar quando é uma depressão? ”

Maria Rita Kehl: “Não é você que tem que identificar, é seu analista que consegue identificar que isto é uma depressão. É muito difícil, às vezes, vai indo, vai indo e nem se consegue mesmo saber. Sabe, claro, que tem ciosas muito óbvias: você não quer mais ver ninguém, não quer mais comer, não quer sair do quarto, mas se você começa a achar que precisa beber uma coisa para se animar, enche a cara, enfim, não precisa de um médico para diagnosticar isso, e a pessoa sabe, provavelmente que está deprimida, ou enche a cara para não saber que está deprimida, ou fica enchendo a carta para não saber que está deprimida, mas daí sabe que para vir no meu colo, vai ter que tratar do mesmo jeito. A depressão em geral o modo como eu… tem depressões que são assim, hoje eu tô um pouco deprimida? Estou, eu olho para o que está acontecendo no Brasil e todo dia eu fico triste. Todo dia eu tenho vontade de deixar o jornal de lado, depois eu pego um pouco, outro pouco, enfim, mas eu não perdi a vontade, eu tô dizendo não eu como exemplo pro mundo, eu tô dizendo, que eu posso examinar mais de perto os meus afetos, eu não perdi a vontade de ver meus amigos, eu não perdi a vontade de falar com as pessoas que eu amo, eu não perdi a vontade de ficar perto dos meus filhos, não perdi a vontade de ir ao cinema, a questão é você perceber que se você não é um deprimido, você está ficando na pandemia, crie dispositivo contra. Junte seus amigos e diga vamos brindar todo sábado à tarde no zoom e ficar meia hora conversando, vamos fazer uma reunião zinha nossa, põe música que você goste, dance um pouco na sala mesmo que você possa se achar ridículo. Porque tem uma coisa que é aqui a gente entristece, fica desesperançado, embora, vou fazer um parêntese aqui (eu estou muito esperançosa com a eleição do ano que vem, Lula lá). Agora a gente também se deprime, com a falta de laço. Então a gente tem que fazer muito esforço para manter laço, isso que eu estou fazendo com você que você me convocou, é laço. Reuniões, participar de alguma coisa, se você não está com dificuldade de dinheiro, doa alguma coisa para quem está fazendo, olha Padre Júlio Lancelotti, eu doo para vários, MST, Médicos Sem fronteiras, enfim, porque como eu não perdi pacientes na pandemia, eu estou podendo fazer isso. Já quem não pode eu não critico de jeito nenhum, você sabia que você pode botar R$50,00 na conta do padre Júlio, você sente assim, não sou eu que vou levar marmita para moradores de rua, mas duas ou três marmitas fui eu que paguei. Isso, sabe, assim tira você dessa sensação de que o mundo está caindo, pasmado, deitado olhando para o teto sem poder fazer nada. Tem coisas possíveis de fazer. Mesmo coisas óbvias que para a esquerda sempre foi a chamada caridade, né. Quando alguém vier pedir alguma coisa na sua porta, não dê o peixe ao homem, ensine a pescar, que é uma coisa maravilhosa, uma ideia genial do Paulo Freire, mas na hora que tem uma mãe com dois filhos passando fome, dá sim, uma marmita ou um dinheiro, porque nesta hora, neste dia, você fez essas pessoas comerem, você fez diferença. Acho que a sensação de fazer um pouco de diferença nesse mar de indiferença, também é um pouco antidepressivo. Não dei cura milagrosa, nada assim, estou dando assim, como é que você pode tomar umas pilulinhas aqui e ali para se sentir mais potente”.

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ALEXANDRE DA SILVA indicou:

– Livro “Mitologia dos Orixás”, de Reginaldo Prandi (Editora Companhia das Letras):

Mitologia dos orixás, do sociólogo Reginaldo Prandi, é a mais completa coleção de mitos da religião dos orixás já reunida em todo o mundo. São 301 relatos mitológicos, histórias que contam, por meio de imagens concretas e não de idéias abstratas, como são, o que fazem, o que querem e o que prometem os deuses desse riquíssimo panteão africano que sobreviveu e prosperou em países da América – em particular no Brasil e em Cuba – e que nos últimos anos tem sido exportado para a Europa. Na sociedade tradicional dos iorubás, é pelo mito que se alcança o passado, se interpreta o presente e se prediz o futuro. Cada mito, portanto, é uma surpresa sempre renovada, um segredo revelado que jamais se deixa desvendar completamente. Ao narrar episódios em que se envolveram deuses como Exu, Ogum, Iemanjá e Iansã, Mitologia dos orixás chama a nossa atenção para sentidos vitais profundos e nos aproxima do vasto patrimônio cultural dos negros iorubás ou nagôs. O livro é ricamente ilustrado, com fotos coloridas de todos os orixás que se manifestam em cerimônias do candomblé no Brasil e ilustrações do artista plástico Pedro Rafael. Livro vencedor do prêmio Érico Vannuci Mendes 2000;

– Série “The Get down” (2016-17), criada por Baz Luhrmann:

Ambientada em Nova York durante o ano de 1977, The Get Down conta a história de como, à beira das ruínas e da falência, a grande metrópole deu origem a um novo movimento musical no Bronx, focado nos jovens negros e de minorias que são marginalizados. Entre o surgimento do hip-hop e os últimos dias da Disco Music, a história se costura ao redor das vidas dos moradores do Bronx e de sua relação com arte, música, dança, latas de spray, política, religião e Manhattan. Disponível na Netflix;

– Série “Losers” (2019), criada por Mickey Duzyj:

Baseado em 8 histórias reais de esportistas que praticam diferentes modalidades, o documentário mostra a importância de saber perder e o quanto o fracasso mudou a vida atletas. Seu principal propósito é fazer com que o espectador possa refletir sobre cada caso a partir de uma nova perspectiva: a da derrota. E mesmo que você não goste tanto de esportes, são muitos os aprendizados em cada relato de vida e que possibilitam traçar um paralelo com nossas vidas e carreiras, além de alertar para o quanto às vezes nos paralisamos em nossas próprias falhas, inviabilizando nosso crescimento. Disponível na Netflix;

– Filme “Corra!” (2017), dirigido por Jordan Peele:

Chris (Daniel Kaluuya) é jovem negro que está prestes a conhecer a família de sua namorada caucasiana Rose (Allison Williams). A princípio, ele acredita que o comportamento excessivamente amoroso por parte da família dela é uma tentativa de lidar com o relacionamento de Rose com um rapaz negro, mas, com o tempo, Chris percebe que a família esconde algo muito mais perturbador.Disponível em diversos canais de streaming;

– Filme “Nós” (Us – 2019), dirigido por Jordan Peele:

Adelaide (Lupita Nyong’o) e Gabe (Winston Duke) decidem levar a família para passar um fim de semana na praia e descansar em uma casa de veraneio. Eles viajam com os filhos e começam a aproveitar o ensolarado local, mas a chegada de um grupo misterioso muda tudo e a família se torna refém de seus próprios duplos. Disponível na Netflix;

– Filme “Ma” (2019), dirigido por Tate Taylor:

Uma mulher solteira de meia-idade faz amizade com alguns adolescentes e decide deixá-los festejar em sua casa. Mas começam a acontecer coisas que fazem os garotos questionar a intenção da anfitriã. Disponível na Netflix;

– Série “Outros” (Them – 2021), criada por Little Marvin:

Uma família negra se muda da Carolina do Norte para um bairro totalmente branco de Los Angeles em 1953, onde sua casa dos sonhos se torna o marco zero para forças malévolas. Disponível no Prime Video.

PAULO AZEVEDO indicou:

– Minissérie “Move: O Mundo da Dança” (2020), dirigida por Thierry Demaizière e Alban Teurlai:

Esta série documental de apenas 5 episódios mostra o brilho e o talento dos dançarinos e coreógrafos que estão moldando a arte do movimento ao redor do mundo. Iremos ver como cada um dos citados impactou o meio da dança – e como a dança também impactou a vida dessas pessoas. Estão lá não só a descoberta da dança, mas também as trajetórias de vida, os percalços, a resistência ao preconceito e muito mais, permeado por depoimentos de familiares, profissionais e especialistas da área. É impressionante conhecer a trajetória de coreógrafos e bailarinos como o espanhol Israel Galván, o israelense Ohad Naharin e os americanos Jon Boogz e Lil Buck, que diz “usar a dança pra curar feridas”. Imperdível! Disponível na Netflix;

– Filme “Entre Frestas” (2021), de Piotr Domalewski:

O longa se situa na Polônia comunista dos anos 80, quando a comunidade gay do país era perseguida pela Operação Hyacinth, que tinha como objetivo catalogar homens gays da época. O protagonista, Robert (Tomasz Zietek), é um jovem policial em busca de respostas de um assassinato na comunidade LGBTQIA+ na cidade de Varsóvia. Insatisfeito com os resultados da investigação, ele resolve ir atrás da verdade sozinho, porém nessa jornada se depara com algumas descobertas, tanto na vida profissional quanto na pessoal.

“Entre Frestas” (ou ‘Operação Hyacinth’ do nome original) conta uma história real da polícia polonesa que realizou uma operação na década de 1980 para rastrear todos os homossexuais no país, que foi conduzida pela Milícia Cidadã Comunista (MO) entre os anos de 1985 e 87, e levou à coleta de informações dobre cerca de onze mil homens gays e um registro de sexualidade de cada um deles, sendo mantidos em sigilo nos registros policiais da época. Elas foram presas, seus arquivos foram criados, suas impressões digitais foram coletadas e algumas delas foram até forçadas a assinar declarações confirmando sua homossexualidade. O filme Conquistou o prêmio de Melhor Filme no Festival de Cinema Polonês de 2021. Entre Frestas já faturou mais de 25 prêmios em diferentes festivais de cinema ao redor do mundo e foi elogiado por sua narrativa. Disponível na Netflix;

– Podcast “Mano a Mano”, com Mano Brown:

O rapper Mano Brown agora tem o próprio podcast. Nele, ele recebe diversas personalidades para conversar sobre vários temas, como saúde, música e política. Brown sempre demonstrou ter uma personalidade questionadora a respeito de tudo em sua volta. Agora, ele vai explorar esse lado curioso em 16 episódios que serão lançados semanalmente na plataforma. Destaque para alguns convidados que já passaram por lá: o ex-presidente Lula, o médico Drauzio Varella, o pastor Henrique Vieira e o vereador Fernando Holiday. Vale muito pena! Disponível no Spotify.

almasculina é feito por:

Idealização, roteiro, edição e apresentação: Paulo Azevedo (@pauloazevedooficial).

Trilha sonora original e mixagem: Conrado Goys (@conza01).

Identidade visual e arte: Glaura Santos (@glaurasantos).

Fotos: Vitor Vieira (@vitorvieirafotografia).

Realização: Comcultura (www.comcultura.com.br).

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