Com a política e ativista dos direitos negros e LGBTQIA+ Erika Hilton e a participação especial do psicanalista, escritor e professor Christian Dunker

O episódio #63 – Parte 1 do @almasculina traz a política e ativista dos direitos negros e LGBTQIA+, Erika Hilton (@hilton_erika), numa conversa franca e aberta sobre religião, sexualidade, “terapias” de reorientação sexual, transfobia, violências, a importância das redes de afeto, o que faltam para os homens aprenderem… E muito mais!

O psicanalista, escritor e professor Christian Dunker (@chrisdunker) “Lugares Comuns”, quadro que dá voz a especialistas, gente que pesquisa e entende muito do assunto, explicando termos, conceitos e ampliando a nossa visão sobre tópicos mais específicos.

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– Ouça aqui o episódio na íntegra:

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LUGARES COMUNS com o psicanalista, escritor e professor Christian Dunker (@chrisdunker) sobre “Masculinidades e violências”:

PAULO AZEVEDO: “A gente aborda sempre trazendo dados, informação, notícias sobre isso, por que a violência está tão associada ou é tão associada as masculinidades tanto quanto com a gente, contra a gente outras minorias políticas ou contra a si mesmos”?

 CHRISTIAN DUNKER: “Esse é um tema que eu acho que precisa, às vezes, de algumas, de umas pré-qualificações. Porque dizer o que é violência e o que não é, também depende de um ato político. Porque tem coisas que a gente não percebe como violência, é natural, mas está ali. E outras que você diz violência é isso aqui, claro, tem os casos ostensivos, tiros e etc. você não vai ter muita dúvida. Mas me parece que é um pouco problemático esse caráter pluriunívoco da violência, ah, violência, não, a gente concorda que não, ela acaba sendo um nome tampão para muita coisa. Inclusive, deixando um pouco na penumbra como é importante para mulheres e a quarta geração feminista iluminou bem isto, recuperar e autorizar a sua possibilidade de ser agressivo. Ah, ser agressivo é diferente de ser violento, é verdade, um viola outro não viola. Mas, se vai para uma política massiva de negação da violência, esse tipo de…a violência que faz resistência, esse por exemplo, estou ocupando um território lá que nem depois vai ficar comigo, mas é uma violência, ou não, é ou, não é? Mas está passando por cima da lei, está passando para dizer o quê? Que a lei não está sendo aplicada, que você quer que ela seja aplicada para mais pessoas, essa matização do conceito mesmo e da extensão dessa aplicação, começou a ser importante até para a gente ter melhor visibilidade do que é assédio moral, assédio sexual, uma violência, a gente trabalha muito isso no contexto de medidas básicas da saúde mental, não pode ter abuso, não pode ter racismo, não pode ter bullying. Ah, mas se a violência vira assim pano para toda obra, fica difícil você chegar lá e dizer é essa aqui que não. É esse exemplo assim que se torna paradigmático. Por que que a transmissão histórica da masculinidade está associada com a violência, acho que isso tem que ver assim, com a compleição bélica, na formação dos estados modernos ligados ao fundamento sobre origem do poder, é pela partilha da violência, colonização: experiência de violência, é uma forma da gente entender e não legitimar, desigualdades e diferenças, isso está muito arraigado. Vamos pensar assim, que as nossas instituições, elas se formaram historicamente a partir disso. Não é só porque elas são do patriarcado, é porque elas presumem uma certa meta além para o conflito. Difícil você dizer, mas isso não. Isso vem sendo trocado, no fundo a violência contra a palavra. Você tem que renunciar ao poder que você tem para recuperá-lo na forma da autoridade via palavra/escuta. Esse processo, ele não foi muito bem estabelecido, principalmente, em países com uma institucionalização precária como a nossa, com processos de republicação bem instáveis, com golpes. A violência é uma linguagem que os homens reconhecem em qualquer lugar. É como futebol, aliás, futebol, violência, usa a linguagem da violência, você pode não ser aceito, mas você vai ser entendido. Você fazer esse deslocamento da violência para um outro tipo de forma de comunicação vai ser complicado, mais complicado do que parece, porque você diz assim, não, peraí, não vamos fazer essa lei, vamos fazer outra. Ah é, então você vai ter que usar sua violência para coagir a renunciar a isso. Entendeu porque eu estou fazendo esse reparo sobre o que é violência? Senão você vai chegar num ponto, vamos dizer assim, você vai ter ressentimento de gênero, é ressentimento de classe, é ressentimento racial, não é metamorfose doa violência em palavra”.

PAULO AZEVEDO: “O que me preocupa, é, ás vezes, o tratamento da violência como algo quase essencialista do masculino, sabe, é da natureza do homem, é do tipo do homem, então aí você fala, a gente vai viver nessa era, nesse primitivismo ad infinito, independente da mudança cultural e como é que é isso? ”

CHRISTIAN DUNKER: “Outra diferenciação, né? Agressividade é uma coisa, violência é outra que confunde muito facilmente, muitas vezes a gente menospreza a agressividade verbal, a crítica, a humilhação, o deboche, o desleixo com o outro, porque isso não teve tapa na cara, não teve empurrão, então, não. Você tem uma coisa chamada escalada da violência, ela começa na agressividade mal negociada, mal subjetivada, mal posicionada. Muitas vezes sem suporte lúdico, ela vai evoluir ali para uma coisa que envolve violação de pactos, tem a ver, mas é uma outra coisa, violação de pactos da lei, de valores que a gente consensua. Essa escalada, eu acho que ela é mal escutada pelas pessoas, tem alguns que pegam o primeiro ponto da série e dizem isso aqui é da violência, mas você não está vendo que isso aqui vai evoluir mal. Os outros, enquanto não tiver dois tiros um na cabeça…aí eu não considero que foi um caso de violência. Esses extremos não ajudam. Muitos homens se ressentem disso, nós fomos criados no quadro de um antagonismo, então nós vamos trocar o antagonismo da palavra gritada, do eu tenho dinheiro, eu pago as contas, eu sou mais forte, você me respeita senão eu vou te bater, eu vou trocar isso por um outro antagonismo que é o do quem é que vai ter razão, quem é que ganha no combate das palavras. Mas você pode dizer assim, eu não vou fazer essa troca porque senão eu chego lá do outro lado eu tenho que sair de um jogo que está 3×0 contra mim. Eu sou o culpado histórico, eu estou devendo, tudo que eu falo é porque eu sou macho branco, e daí? Daí eu não consigo jogar esse jogo, para mim é um jogo que eu considero injusto. E daí a gente volta para o primeiro jogo, que é eu tenho dinheiro então agora você me obedece e isso, está um pouco encavalando a conversa”.

PAULO AZEVEDO: “O problema é a gente ter que chegar ao ponto de uma mulher quase morrer, né, para virar lei, Maria da Penha, ser quase chincalhada sendo vítima como a Mari Ferrer, enfim, quantas ainda vão precisar passar por determinadas coisas nessa relativização da violência, do que é violência para mim, não é para você.”

 CHRISTIAN DUNKER: “Esse uso político no mau sentido, é? Uso retórico, onde sempre a violência está sendo usada para justificar o poder”.

almasculina é feito por:

Idealização, roteiro, edição e apresentação: Paulo Azevedo (@pauloazevedooficial).

Trilha sonora original e mixagem: Conrado Goys (@conza01).

Fotos e arte: Vitor Vieira (@vitorvieirafotografia).

Mídias sociais: Luísa Guimarães (@luisa.fguimaraes).

Colaboração: Glaura Santos (@glaurasantos) e Soraia Azevedo (@alvesdeazevedosoraia).

Realização: Comcultura (www.comcultura.com.br).

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