Com o médico obstetra e criador do Paternatal, Felipe Favorette, e a participação especial do cientista PhD e Co-host Podcast Naruhodo Altay de Souza

O episódio #43 – Parte 1 do @almasculina com o médico obstetra e criador do Paternatal (@paternatal), Felipe Favorette (@drfelipefavorettecampanharo), que fala sobre referências de masculinidades, paternidade, gestação e pré-natal, saúde integral… Sempre relacionados à sua visão sobre as masculinidades.

O cientista PhD e Co-host Podcast Naruhodo Altay de Souza (@altayals) é o nosso convidado no “Lugares Comuns”, quadro que dá voz a especialistas, gente que pesquisa e entende muito do assunto, explicando termos, conceitos e ampliando a nossa visão sobre tópicos mais específicos.

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– Ouça aqui o episódio na íntegra:

– Assista à gravação na íntegra no nosso canal no Youtube!

LUGARES COMUNS com Altay de Souza (@altayals) sobre “Masculinidadades e Gestação”:

Paulo Azevedo: “Muitos homens, ainda hoje, se apoiam muito na ideia de “instinto materno” para justificar sua ausência ou inapetência durante a gestação e a criação dos filhos. Inclusive esse é o tema do episódio #198 do seu podcast com o Ken Fujioka, o Naruhodo. Existe alguma razão para isso? ”

Altay de Souza: “Instinto materno é um conceito um tanto quanto falacioso do ponto de vista científico. Eu não digo que é errado, mas eu digo que ele demanda mais esclarecimentos para as pessoas perceberem que quando você pensa no instinto materno, você, necessariamente, está pensando no materno, que é a mãe e, não é bem assim. E que não existia o instinto paterno, só que não é bem assim. A gente tem que definir algumas coisas, por exemplo, o que é instinto. Parece que é uma coisa pré-programada, que está dentro de você e quando acontece, parece que é como se apertasse um botão e você mudasse. Não é bem assim, bem poucos comportamentos humanos, falando no humano, bem poucos comportamentos são caracterizados como instinto. A gente tem um outro conceito que é chamado padrão fixo de ação. Padrão fixo de ação é o seguinte: seria um comportamento estereotipado que acontece em algum período específico da vida. Um tipo de padrão fixo de ação ou instintual que é muito comum, que a gente consegue ver com facilidade é com ave, principalmente, galinha, por exemplo, quando você vê uma galinha e vê que o pintinho nasce, ele corre atrás da primeira coisa que ele vê, isso é um padrão fixo de ação. É bem estereotipado ligado a um tipo de ação, tem um nome próprio para isso que chama blueprint. Tanto é, que se o pintinho nasce, e ele vê você, a primeira coisa que ele vê, ao invés da mãe galinha, é você, ele pode imprintar em você e correr atrás de você. Isso vai ter um impacto grande para o resto da vida dele. Konrad Lorenz, ganhador do prêmio Nobel, ele notou isso, ele foi o primeiro pesquisador que notou o imprinting. E ele viu que, no caso ele usava ganso, os gansos que corriam atrás de humanos, que imprintavam humanos, quando eles se tornavam adultos, na fase reprodutiva, eles não cortejavam outros gansos, eles cortejavam humanos, alguns deles, uma fração deles. Isso mostra que, algo que acontece nesse período bem inicial da vida, pode afetar coisas no seu desenvolvimento subsequente. Nós humanos não temos esse tipo de display de padrão não fixo de ação tão forte e direto. O recém-nascido tem algumas coisas, por exemplo, o reflexo de sugar, algo instintual, mas tem que ser treinado. Mas no caso do cérebro humano, a gente nasce com o cérebro muito imaturo, então a gente tem muito pouco instinto, bem poucos e, na verdade boa parte dos comportamentos que temos foram aprendidos. Diferente das aves que nascem do ovo, elas não têm uma placenta com que se alimentarem, elas se alimentam, exclusivamente do que tem no ovo. Então, elas têm que desenvolver uma certa autonomia para o desenvolvimento de certas funções quando o pintinho sai do ovo. A gente, e tem várias evidências para isso, quando uma mulher no caso fica grávida, tem alterações no cérebro dela relacionadas a maternidade, existem áreas do cérebro que reduzem e outras áreas aumentam de volume. E o interessante que a gente descobriu que, e tem uma vasta literatura sobre isso, isso não acontece só na mulher. Acontece também no homem. Homem tem redução de área e aumento de outras áreas e, sobretudo ele tem uma redução drástica a partir do terceiro mês de gestação no nível de testosterona, ou seja, a agressividade dele diminui bastante. Principalmente, quando ele convive com a mãe grávida, que ele convive, mas mesmo não convivendo, se ele não tem tanto contato, ele sabe que o filho é dele, isso gera mudanças estruturais no cérebro, que não retornam. Na verdade, não é que exista um instinto materno, existe uma gama de reações fisiológicas que são despertadas nesse momento de existência de um feto. Na existência de uma fecundação ou de um filho. O interessante que essas modificações estruturais no cérebro, elas não se alteram depois. É algo que não volta, é algo bem interessante assim, não é caracterizado como instinto, mas é caracterizado por conta do desenvolvimento, mas que não tem retorno. Então, essa coisa dos homens se apoiarem nessa coisa de que instinto é sempre materno, por isso a inapetência deles é algo justificado, isso não faz nenhum sentido. Esse é um aspecto cultural negativo disso, com exceção nos primeiros seis meses da criança, muito forte mesmo, aí tem uma série de reações fisiológicas entre a criança bebê e a mãe, nos primeiros seis meses, passando isso, a disposição do homem, do pai, do cuidador do sexo masculino, não é motivo para os homens…não são incompetentes de forma nenhuma. A questão é que não existe um incentivo para que os homens treinem. Da mesma forma que as mães têm dificuldades, principalmente no primeiro filho, dificuldade de lidar com aquele ser que acabou de nascer, os homens têm a mesma dificuldade, só que para as mulheres é esperado que elas resolvam isso mais rápido possível e para os homens, é visto como uma certa leniência: “Ah, pode deixar que o cara, ah ele não sabe mesmo tudo bem…” E esse é o problema, né? A gente não cobra da mesma forma, cobra demais de um lado e menos de outro. Na verdade, uma forma de acabar com essa ideia de instinto materno, porque não existe nem instinto, nem materno, e também pode ser paterno. O caminho para isso, é incluir o homem nessa rede de cuidados, seja por treinamento ou seja por incentivo para ele continuar treinando mais. Isso é a recomendação que eu deixo para vocês. Continuem treinando, está bom? Obrigado, até mais! ”.

ESCUTA AQUI

Felipe Favorette indicou:

– Livro “Diário Ilustrado da Paternidade”, de Rodrigo Bueno (Editora Timo):

“Em 2012 descobri que seria pai de gêmeas. Me vi diante um novo universo, uma grande aventura. Fui tomado de um desejo de registrar cada momento dessa jornada e iniciei um trabalho pessoal de registro gráfico da minha experiência, desenhando e escrevendo o que vivia, sentia e aprendia. Por mera curtição comecei a publicar essas histórias na internet. E a resposta das pessoas que se identificavam com meu trabalho me motivou a produzir cada vez mais a partir de um ponto de vista mais amplo e universal. Criei o Diário Ilustrado da Paternidade.”

– Livro “Mãe Fora da Caixa”, de Thaís Vilarinho (Buzz Editora):

Quando vivia meu luto do puerpério, em sua fase mais latente, ler os textos da Thaís Vilarinho me acalentou e fortaleceu para aceitar o meu renascimento. O Mãe Fora da Caixa não é só um livro de relatos de vivências maternas, é também um abraço de cura. Aqui nos sentimos representadas e acolhidas nos desafios e nas doçuras da maternidade. Aqui somos impulsionadas a nos libertarmos dos pré-conceitos sobre o mundo materno e a nos permitir a audácia de sonhar, de nos reinventar e de viver a maternidade de forma leve, prazerosa, sem críticas, regras e julgamentos. Gratidão à Thaís por compartilhar a maternidade real, afetos, emoções e sentimentos lançados em forma de textos.

– Livro “Modern Families: Parents and Children in New Family”, de Susan Golombok (Cambridge University Press):

O livro reúne pesquisas sobre paternidade e desenvolvimento infantil em novas formas familiares, incluindo famílias de mães lésbicas, famílias de pais gays, famílias chefiadas por mães solteiras por escolha e famílias criadas por tecnologias de reprodução assistida, como fertilização in vitro (FIV), doação de óvulos, esperma doação, doação de embriões e barriga de aluguel. Esta pesquisa é examinada no contexto das questões e preocupações que foram levantadas em relação a essas famílias. As descobertas não apenas contestam os mitos e suposições populares sobre as consequências sociais e psicológicas para os filhos de serem criados em novas formas familiares, mas também desafiam as teorias bem estabelecidas de desenvolvimento infantil que se baseiam na supremacia da família tradicional. Argumenta-se que a qualidade das relações familiares e o ambiente social mais amplo são mais influentes no desenvolvimento psicológico das crianças do que o número, gênero, orientação sexual ou parentesco biológico de seus pais ou o método de sua concepção.

– Filme “Paternidade” (2021), de Paul Weitz:

Baseado em uma história real, o filme acompanha Matt, um viúvo que precisa lidar com a dor da perda enquanto aprende a como ser pai. No meio das dificuldades da paternidade, Matt irá fazer de tudo para garantir que sua filha tenha tudo o que precisa. Seja cantando com os seus amigos para fazê-la dormir ou inventando um novo penteado. Além dos obstáculos do dia a dia, Matt também precisa lidar com a pressão da família para se mudar de cidade. A história sobre o amor de pai e filha promete ser emocionante e divertida ao mesmo tempo. Disponível na Netflix.

Paulo Azevedo indicou:

– Filme “Father” (Otac – 2020), de Srdan Golubović:

Em seu quinto e premiado longa, o diretor sérvio Srdan Golubović acompanha em “Father” a trajetória de Nikola quando seus filhos são tirados dele após o serviço social decidir que ele é muito pobre para oferecer um ambiente de vida decente. Ele sai a pé para apresentar uma queixa em Belgrado, cidade que fica a 300 km de distância. De forma humilde e simples, não entende totalmente o funcionamento burocrático do trâmite social, mas não desiste de seus filhos mesmo com os obstáculos que encontra. O ator Goran Bogdan entrega uma poderosa performance, firme mesmo quando aparenta desmoronar.  O filme é um drama atual, que apesar de recordar um tempo mais antigo, se passa em um século XXI com a precariedade do mínimo: a compaixão.

– Filme “2 Filhos de Francisco” (2005), de Breno Silveira:

Cinebiografia da dupla Zezé Di Camargo e Luciano, o filme traz o pai deles, Francisco Camargo: um lavrador de Pirenópolis, no interior de Goiás, que tem um sonho aparentemente impossível: transformar dois de seus nove filhos em uma dupla sertaneja. Ele inicialmente deposita sua esperança no mais velho, e resolve lhe dar um acordeão quando o menino completa onze anos. Eles fazem sucesso nas festas da vila onde moram, mas devido à perda da propriedade onde moravam nos anos 70, toda a família é obrigada a se mudar para Goiânia. Disponível no GloboPlay, Youtube, AppleTV e GooglePLay.

– Filme “Peixe Grande e Suas Histórias” (2004), de Tim Burton:

O longa de Tim Burton fala essencialmente da relação de um pai e um filho. Will passou a infância escutando as histórias fabulosas vividas por seu pai, Edward. Os dois acabam se distanciando com o passar dos anos e Will guarda com confusão e rancor, os relatos magníficos de seu pai, julgando que ele era um homem que fantasiava muito, mas que se distanciava do real. Só no leito de morte de Edward, ele decide investigar as tais façanhas e finalmente entende que seu pai preferia enxergar a vida vendo o melhor das pessoas e das situações. Disponível na Netflix.

– Filme “Fruitvale Station – A Última Parada” (2014), de Ryan Coogler:

O filme traz a história verídica de Oscar Grant (Michael B. Jordan), um jovem negro de 22 anos, e das resoluções por si tomadas ao longo do dia 31 de Dezembro de 2008: tornar-se um filho melhor, um namorado melhor e um pai mais presente para Tatiana, a filha de quatro anos. Porém, quando menos espera, acaba por ser envolvido numa briga na estação Fruitvale, em Oakland, Califórnia. Quando os agentes da polícia local atiram sobre si, tudo o que tinha previsto para o seu futuro termina abruptamente. Um filme dramático sobre um caso de segregação racial que causou uma enorme polémica nos EUA e premiados em vários festivais. Disponível no Amazon Prime Video, GloboPlay e Looke.

almasculina é feito por:

Idealização, roteiro, edição e apresentação: Paulo Azevedo (@pauloazevedooficial).

Trilha sonora original e mixagem: Conrado Goys (@conza01).

Identidade visual e arte: Glaura Santos (@glaurasantos).

Fotos: Vitor Vieira (@vitorvieirafotografia).

Realização: Comcultura (www.comcultura.com.br).

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