Com o músico, compositor e roteirista Bemti e a participação especial da psicanalista, escritora, jornalista Maria Rita Kehl

O episódio #52 – Parte 1 do @almasculina traz o músico, compositor e roteirista Bemti (@bemtii), que fala sobre referências de masculinidades, iniciação homoafetiva, bullying, relação com o sentir, Queernejo e machismo no meio musical, autoimagem… Sempre relacionados à sua visão sobre as masculinidades.

A psicanalista, escritora, jornalista e integrante da Comissão Nacional da Verdade (2012-14) Maria Rita Kehl (@mariaritakehl.oficial) é a nossa convidada no “Lugares Comuns”, quadro que dá voz a especialistas, gente que pesquisa e entende muito do assunto, explicando termos, conceitos e ampliando a nossa visão sobre tópicos mais específicos.

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– Ouça aqui o episódio na íntegra:

– Assista à gravação na íntegra no nosso canal no Youtube!

LUGARES COMUNS com a psicanalista, escritora, jornalista e integrante da Comissão Nacional da Verdade (2012-14) Maria Rita Kehl (@mariaritakehl.oficial) sobre “Masculinidades e homofobia”:

Paulo Azevedo: “O nosso quadro ‘Lugares Comuns’ traz uma nova convidada: ela é psicanalista com vasto histórico de participação em movimentos sociais (como o MST), no jornalismo e na teorização crítica, ensaísta, doutora em psicanálise pelo departamento de psicologia clínica da PUC-SP, autora de ensaios publicados na imprensa e em coletâneas, e também dos livros como “O Tempo e o Cão”, vencedor do Prêmio Jabuti. Foi ainda integrante da Comissão da Verdade entre 2012 e 2014.Seja muito bem vinda, Maria Rita Kehl!

Na sua visão, o que gera a homofobia (“lgbtqia+fobia”, em geral)? Como isso se manifesta no nosso cotidiano? Por que, em geral, esse preconceito (ou discriminação) é mais forte entre os homens?

Maria Rita Kehl: “Vamos começar com o velho Freud. O Freud disse que ninguém nasce homem ou mulher, nós nos tornamos homens ou mulheres não no sentido da orientação sexual, mas na identificação com o gênero também, pois pode haver homossexual que se identifique como homem e ele gosta de outros homens que são mais femininos ou pode haver uma homossexual que é o contrário, ela também gostaria de ter sido homem. Então, o tornar-se homem ou mulher tem a ver com a passagem pelo Édipo, tem a ver com a ligação com o pai ou a mãe tem a ver com muitas coisas e eu acho que aí têm algum ponto também, que é enigmático, não sei se ele deve ser respondido, porque ninguém pergunta para um hetero porque você conseguiu virar assim, aconteceu que você foi desde criança, suas fantasias se você é mulher ia pra um menininho ou se você gostava mais do papai ou da mamãe, estou falando banalidades para não tornar isso uma travessia de uns deram certo outros deram errado. Quem deu certo teve as fantasias certas, os pais certos, se tornou hetero. E quem deu errado porque algum erro da família ou uma disfunção, e me parece que a gente tem que entender esses casos um a um, se precisar entender. No caso do meu consultório quando surge alguém é um a um, eu por exemplo, observei, sem ter sido jamais analista dela, como amiga, eu observei a transformação do Laerte, da Laerte, porque era um cartunista sempre muito talentoso, nos anos 70 quando nós trabalhávamos nos jornais alternativos, porque eu comecei minha vida profissional só como jornalista, demorei a assumir o lado psicóloga, psicanalista, já nos anos 80. Então, a Laerte, o Laerte trabalhava num jornal de oposição à ditadura chamado: ‘O movimento’. Era muito talentoso já, os desenhos dele, tinha outros cartunistas, mas ele sempre foi top e tivemos contato, depois perdemos, depois tivemos de novo. E era um sujeito muito calado, muito introspectivo, muito genial, mas você tinha pouco acesso a ele. De repente surge a Laerte e eu até perguntei numa entrevista na rádio Madalena que eu tenho, um jeito para dar spoiler, chama conversa solta, de entrevista, a gente tem há muito tempo, eu até perguntei: ‘Aquela timidez, você sabia que tinha alguma coisa que queria ser mulher?’. E, ela disse: ‘Não. Tinha alguma coisa esquisita e eu não estava à vontade comigo mesmo”.

Paulo Azevedo: “No nosso episódio aqui no Almasculina, inclusive ele falou muito da relação com a família, como foi esse processo com a família, com os filhos, com os netos, foi interessantíssimo o papo”.

Maria Rita Kehl: “Enfim estou dando o exemplo dela porque essa frase do Freud nunca foi tão acertada na minha vida empírica como quando eu observei o que aconteceu com a Laerte, na infância nós somos de certa forma bissexuais no sentido de que a fantasia pode ir pra muitos lados então eu não acho que eu a gente tenha que explicar como alguém é gay , assim como a gente não tem que explicar porque alguém é deprimido, ele quer sair da depressão, não é bom ficar deprimido, mesmo que ele não queira , acha que está bom lá, pra quem está em volta dele se preocupa mas o homossexual ou bissexual, quem quer mudar de sexo, o transexual, não é que ele tenha um problema com isso, ele tem um problema de identificação com o próprio gênero que isso vai resolver, isso é solução, não é problema”.

Paulo Azevedo: “E o problema das pessoas com relação a essas pessoas, no caso da homofobia e porque é tão latente nos homens a homofobia”.

Maria Rita Kehl: “Olha eu acho que deve ser muito mais difícil ter um pênis do que uma vagina, é deve, porque veja a mulher, falando biologicamente tem muitos recursos. Não é um problema se eu vou ou não funcionar lá na hora, porque se não funcionar a gente finge. Vamos falar sério? É fácil fingir. Para não criar um desconforto, para deixar o cara contente, você sabe que na próxima pode ser melhor, mas naquele dia ele estava meio desajeitado, era primeira vez, estava meio apressado, se você mostra que não deu certo, piora. Então para a mulher eu acho digno isso, não acho hipócrita. É fácil fingir, até se acertar e aí dá uma dica aqui dá uma dica ali, se for uma relação longa, se for casual, você finge para se livrar, se não deu certo tchau, sem humilhar ninguém, porque falando estou humilhando alguém, mas nem eu sei mais porque fingi, não importa. O fato que para o homem é mais difícil, porque ás vezes a parceira pode inibi-lo, sem ela perceber, a parceira pode não corresponder na hora h, no sentido acontece com a gente também, porque acontece. Parece que vai ser um mundo legal e de repente não é, não tem química sei lá como se diz isso, então o homem tem que desempenhar e para ele é humilhante o não desempenho. Espero que esteja mudando quer dizer tem uma não é um movimento, quer dizer uma geração nova, da minha filha mais nova que provavelmente já conversa isso em outros termos mas também tem me parece eu acho que eleição desse presidente provocou isso também tem uma relação de jovens mesmo ressentidos com não vou chamar feminismo porque feminismo é um movimento, um dos primeiros movimentos sufragistas, começa dos anos 50, ele vem dos anos 60, nada tão novo, mas claro que as meninas estão hoje empoderadas. Os meninos sempre foram, porque não. Mas acho que tem algum ressentimento aí não posso explicar clinicamente que eu nunca ouvi na minha clínica algo de um jovem que se identifica com o bolsonarismo, porque vamos defender os verdadeiros valores machistas então não posso, não tenho nenhum aprofundamento, mas acho que tem ressentimento aí”.

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BEMTI indicou:

O trabalho do do cantor e compositor americano Moses Sumney.

PAULO AZEVEDO indicou:

– Filme “A Guerra dos Sexos” (2017), de Simon Beaufoy:

Na sequência da revolução sexual e do surgimento do movimento feminista, a partida de tênis de 1973 entre a campeã mundial feminina, Billie Jean King, e o ex-campeão dos homens, Bobby Riggs, foi divulgada como A Guerra dos Sexos. Esse jogo se tornou um dos eventos esportivos televisionados mais vistos de todos os tempos, chegando a 90 milhões de telespectadores em todo o mundo. À medida em que a rivalidade entre King e Riggs aumentava, fora de campo, cada um enfrentava batalhas mais pessoais e complexas. Disponível no StarPlus, Now, entre outros;

– Filme “As Vantagens de Ser Invisível” (2012), de Stephen Chbosky:

Baseado no livro homônimo de Stephen Chbosky (que também dirigiu e escreveu o roteiro), As Vantagens de Ser Invisível, conta a história Charlie, um garoto de 15 anos que se recupera de uma depressão, e tenta seguir sua vida depois de perder seu único amigo que se matou com um tiro na cabeça. Na escola ele conhece Patrick e Sam que vão ajuda-lo na sua recuperação, no seu crescimento e sua socialização com o mundo exterior.  Um filme sobre amores, relacionamentos, conflitos internos, amizades, passado, presente e futuro. E traz uma frase que vale como um mantra: “Nós aceitamos o amor que achamos merecer”. Disponível na Netflix;

– Série “Pose” – 3ª temporada (2018-2021), criada por Ryan Murphy:

A temporada final se passa em 1994 e os bailes já não acontecem mais. A protagonista Bianca precisa encontrar o equilíbrio entre sua vida com seu novo parceiro e também um novo emprego como enfermeira. As tramas da série nunca se concentraram apenas na rotina dos “excluídos” que compunham a cena dos bailes. A epidemia de HIV entre os anos 80 e 90 se alastrava pela cidade e era impossível não voltar até aqueles anos sem falar do quanto a doença afetou a comunidade.A série se destaca por ter quase toda a equipe formada por mulheres, pretos e minorias entre roteiristas, diretores e um elenco majoritariamente trans – o que rendeu a primeira indicação de uma atriz transgênero ao Emmy Awards, MJ Rodriguez, entre outras inúmeras indicações a prêmios. Pose é bem escrita, bem dirigida, sabe equilibrar o drama e o humor, tem um retrato histórico belíssimo e ainda nos afaga com a beleza dos bailes, com a audácia de seus personagens. Disponível no Star+;

– Podcast “Não Inviabilize”, de Déia Freitas:

o canal Não Inviabilize é um espaço de contos e crônicas, um laboratório de histórias reais. Traz histórias reais enviadas pelo ouvintes misturadas às da criadora Déia Freitas, psicóloga, podcaster, roteirista, escritora, uma contadora de histórias. O nome “Não Inviabilize” veio de um blog que ela tinha nos anos 2000: Não Inviabilize A Minha Existência”. Disponível no Spotify e outros agregadores de podcast.

almasculina é feito por:

Idealização, roteiro, edição e apresentação: Paulo Azevedo (@pauloazevedooficial).

Trilha sonora original e mixagem: Conrado Goys (@conza01).

Identidade visual e arte: Glaura Santos (@glaurasantos).

Fotos: Vitor Vieira (@vitorvieirafotografia).

Realização: Comcultura (www.comcultura.com.br).

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