Com o o ator e diretor Fabrício Boliveira (@fabricioboliveira) e a participação especial do psicanalista, escritor e professor Christian Dunker

O episódio #68 – Parte 1 do @almasculina traz o ator e diretor Fabrício Boliveira (@fabricioboliveira), que trouxe uma rica conversa sobre o espectro das masculinidades nas artes, branquitude, homofobia, racismo e preconceito… E muito mais!

O psicanalista, escritor e professor Christian Dunker (@chrisdunker) “Lugares Comuns”, quadro que dá voz a especialistas, gente que pesquisa e entende muito do assunto, explicando termos, conceitos e ampliando a nossa visão sobre tópicos mais específicos.

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– Ouça aqui o episódio na íntegra:

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LUGARES COMUNS com o psicanalista, escritor e professor Christian Dunker (@chrisdunker) sobre “Masculinidades e homofobia”:

PAULO AZEVEDO: “Christian a gente já abordou várias vezes esse tema aqui no Almasculina, tanto com homens trans, mulheres trans, homens gays ou não, enfim, a questão da cura gay. Eu queria te fazer uma pergunta provocativa, por que ainda hoje existe essa crença e qual seria a cura, se existe uma cura para homofobia? Qual seria?”

CHRISTIAN DUNKER: “A cura para a cura gay…” “Não vai ser só porque passa por elementos básicos de educação sexual e de entendimento da coisa, mas não vai resolver pois pega só o mais tosco assim. A homofobia é no fundo um tipo de fobia e a fobia é um sintoma muito específico de como você lida com uma parte do seu desejo insuportável. Você pode negar aquilo e colocar numa parte do seu corpo, você pode negar e colocar isso numa ideia oposta, por exemplo, vou me transformar num vigilante, num defensor, alguém que está numa cruzada da moral. Ou você pode colocar isso num objeto, assim que uma criança tem medo de cavalo, de rato, de barata, é no fundo a representação de algo que exerce sobre você um poder, seja ele de que gênero for. Muitos homens, vamos dizer assim, mas também mulheres partilham dessa ideia quando a gente fala em sexualidade, sexo é um problema, porque você fica na mão do outro, você perde sua liberdade quando você namora desejando uma outra pessoa, aquela pessoa ocupa um determinado poder. Então, qual é forma de você lidar com isso, é transportar esse determinado poder porque assim você vai esquecer que aquilo exerce poder sobre você. Então, qual é a forma, é colocando no homossexual, daí você tem aquele sentimento assim, que só de ver aquela forma de gozo que você pressupõe, aquilo mexe com a tua autonomia libidinal, infelizmente, é um conceito difícil que vem junto com a sexualidade na psicanálise, difícil da gente crer numa sociedade que crê absolutamente no mito do indivíduo. O meu prazer e o seu prazer, a gente negocia, contratualiza. Não, o meu prazer, vamos ser francos, ele acontece do que eu acho que acontece com o seu, fomos feitos assim. Por isso que depois, não é só um assunto de boa educação: foi bom para você, querido ou querida, porque é o bônus a mais, uhuuu, se foi para ela oh, isso aumenta meu tesão. Isso é regra, o cara que não tem isso você vai dizer que tu és mané. Se não descobriu que o tesão se tiver esses vasos comunicantes, como diria o André Breton, ele é mais legal, mais bacana porque você vai se satisfazer usando sim uma parte do outro, o outro vai usar você e você vai pegar um fragmento do outro e trazer para você. Olha que loucura! Mas é a fonte de sentimentos nobres como solidariedade, compartilhamento, olha eu consigo me ver e me reconhecer em você, nós estamos juntos na produção de um comum, tudo isso depende de você sacar que a liberdade ou é de todo mundo ou não é de ninguém, a felicidade ou é de todo mundo ou não é de ninguém. Pergunta as pesquisas dos caras que estudam felicidade: Sinal de que você está realmente feliz, é que você sacou que a felicidade do outro é superimportante para a sua. Só um idiota pensa nisso com a chave é egoísta ou altruísta. Não, não, isso é excesso de indivíduo na sua cabeça. Então, agora, você pega o sujeito que tem essa atitude excessivamente reduzida, individual e põe ele diante de um casal gay que causa nele uma coisa. Por quê? Porque aquilo me afeta, aquele prazer, ele entra em mim, o vaso comunicante não é só o que vai, ele vem também. A única coisa que o cara pode fazer é perseguir, falar mal, quando não, agredir, porque ele está tentando controlar o seu desejo no objeto, exatamente como a criança que teme a barata, com o cavalo, pus lá que é perigoso para fora, está lá no outro e o outro não vem para cima de mim. É no fundo uma teoria muito rudimentar, de maltrato par atua economia libidinal. A gente tem que se acostumar com narrativas gay, lesbiana, trans na cultura. Tem que assistir aquele filme, na sala de aula, Darwin, cadê o filho gay? Tem que estar lá. Não, mas isso aí vai influenciar os meus filhinhos, ah o pai homofóbico, a mãe homofóbica, eu não quero! Tem que ter uma discussão mais aberta sobre sexualidade, tem que ter roda de conversa. Muito da homofobia tem um cruzamento com outro quadro que a gente chama de paranoia sistêmica, não é só que é gay, mas é perigoso. Vai me atacar, vai vir para cima das minhas crianças, vai vir para cima do meu casamento, vai querer dar em cima de mim, olha só, que ideia terrível! De onde poderia vir essa ideia? Porque ele quer pegar você, do seu inconsciente, é óbvio!”

PAULO AZEVEDO: “O que é mais assustador, é que toda cultura é binária e é heteronormativa, os referenciais, na grande maioria, do entretenimento, das novelas, dos livros, as narrativas são de um príncipe encantado que desperta a princesa, isso nunca tornou uma pessoa que é homossexual em hetero, né? Por que o inverso aconteceria?”

CHRISTIAN DUNKER: “Pelo contrário, é, exatamente. São séculos, batendo ali equivocadamente, numa tecla formando relações de poder, sistema de família, acho que todo mundo tinha que ler uma versão digamos assim, popular, do “Gênero da dádiva” texto de uma antropóloga chamada Marilyn Strathern, que estudou famílias de todas as formas e tamanhos de várias comunidades da Melanésia, Polinésia e é um sistema onde as pessoas são homens e se tornam mulheres dependendo do que elas estão fazendo. Você não sabe se tem um homem ou uma mulher batendo o olho. É um homem porque tem barba, cabelo tal, mas é uma mulher, porque está naquela função. Concordo contigo, o binarismo continua existindo, mas você tem uma plasticidade cultural. Tem que ter mais aula de antropologia, não adianta. A paranoia sistêmica é falta de experiência pessoal com. Muita gente nunca conviveu, nunca teve uma conversa, não sabe, é uma coisa que acontece lá longe.”

almasculina é feito por:

Idealização, roteiro, edição e apresentação: Paulo Azevedo (@pauloazevedooficial).

Trilha sonora original e mixagem: Conrado Goys (@conza01).

Fotos e arte: Vitor Vieira (@vitorvieirafotografia).

Colaboração: Glaura Santos (@glaurasantos) e Soraia Azevedo (@alvesdeazevedosoraia).

Realização: Comcultura (www.comcultura.com.br).

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