Com o terapeuta holístico e consultor de masculinidades Agni Santoro e a participação especial da antropóloga, professora e escritora Mirian Goldenberg

O episódio #51 – Parte 1 do @almasculina traz o terapeuta holístico e consultor de masculinidades Agni Santoro (@agni.dialogo_masculino), que fala sobre referências de masculinidades, espiritualidade, autoconhecimento, paternidade, os efeitos da pandemia, sexualidade, relação não monogâmica… Sempre relacionados à sua visão sobre as masculinidades.

A antropóloga, professora e escritora Mirian Goldenberg (@miriangoldenberg) é a nossa convidada no “Lugares Comuns”, quadro que dá voz a especialistas, gente que pesquisa e entende muito do assunto, explicando termos, conceitos e ampliando a nossa visão sobre tópicos mais específicos.

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– Ouça aqui o episódio na íntegra:

– Assista à gravação na íntegra no nosso canal no Youtube!

LUGARES COMUNS com Mirian Goldenberg (@miriangoldenberg) sobre “Masculinidades e os impactos da pandemia”:

Paulo Azevedo: ”Quais são os outros efeitos psicológicos e emocionais gerados pela pandemia, já estão sendo mapeadas pelos estudiosos? Pensando, é claro, no impacto dessa tragédia das milhares de mortes (muitas delas, possivelmente, evitadas se houvéssemos uma melhor gestão dessa crise sanitária). E qual seria, em especial, o papel dos homens neste contexto? Mirian, você pesquisa o tema da felicidade há bastante tempo. É possível chegar a uma única definição do que é a felicidade? Existem características comuns do que seria a felicidade para os homens e para as mulheres, em geral? ”

Mirian Goldenberg: “Eu venho acompanhando desde o primeiro dia várias famílias que estão sofrendo esta pandemia de uma forma compartilhada, vamos dizer assim. Famílias que têm nonagenários pessoas de sessenta e setenta anos e netos de quarenta, bisnetos de vinte, então, são quatro gerações de homens e mulheres que estão vivendo essa pandemia. Tenho pesquisado e compartilhado meus dias que são trinta famílias, eu vejo que os homens assumiram papeis que eles nunca haviam assumido antes em toda vida. Muitas famílias os homens passaram a cozinhar, passaram a afazer as compras, fizeram toda essa intermediação entre as coisas que chegam da rua e as coisas que saem para a rua. Homens que nunca haviam passado aspirador, limpado o chão, lavado louça, assumiram esses papeis sem tantas cobranças assim quase que uma divisão natural das tarefas domésticas, para as mulheres não ficassem tão sobrecarregadas como sempre ficaram. É verdade que não funcionou para todos os casais e diversas famílias, tanto é que aumentou o número de divórcios, não só no Brasil, mas no mundo inteiro. E, acredito que também em função disso, em função de não só do desgaste do cotidiano da rotina, do excesso de intimidade, mas porque não aconteceu uma divisão de papéis mais igualitária, mais justa, mais satisfatória para os homens e para as mulheres. No entanto, nos casais que eu observo que isso ocorreu, e também nas relações de pais e filhos, mães e filhas, eu creio que os homens também descobriram que eles também podem cuidar. Que eles também podem e devem realizar inúmeras atividades dentro da casa que eram consideradas femininas. E, mais ainda, que eles também gostam de cuidar e realizar essas atividades. Então, uma coisa que eu observei muito é que homens que nunca tinham cozinhado, no máximo feito um ovo, ou um macarrão, agora estão cozinhando. Eles queimaram o primeiro arroz, queimaram o primeiro feijão, o segundo, o terceiro e com o tempo não só aprenderam a cozinhar, como passaram a gostar muito de cozinhar. Eu observei isso em inúmeras famílias, homens que assumiram a cozinha como sua, não mais aquela ideia de homem que ajuda, que eu não gosto disso. “Ai, como ele me ajuda! ” Como se fosse o favor e algo secundário. Não, ele assumindo plenamente a cozinha, não só o momento de cozinhar e de lavar e colocar tudo em dia, mas também de decidir o que comprar, o que fazer, o menu do dia, observei isso em várias famílias. Homens que estão cozinhando para as esposas, para os filhos, para eles mesmos, e também para os pais, para os irmãos. Lógico que foi um momento e está sendo ainda de extrema complexidade, dificuldade sofrimento e perdas, mas eu observei que houve também, não sei se posso chamar de ganhos, mas de descobertas coisas que os homens talvez nunc apercebessem porque não tinham também oportunidade, né? Não estavam convivendo, vivendo tanto tempo dentro de casa e assumindo outros papéis dentro da casa. E ao mesmo tempo eles descobrindo que gostam, ao contrário do que eles viam como obrigações e tarefas chatas, repetitivas, eles descobriram uma criatividade e uma forma de serem eles mesmos, e coisas que eles antes ou desprezavam ou ignoravam, ou achavam que eram coisas do domínio feminino. Então, pelo que eu venho observando, homens e mulheres tiveram e têm conflitos que sempre existiram, mas que poderiam estar encobertos, mas que eles descobriram um companheirismo e até uma admiração pelos parceiros porque eles viram como é importante uma relação de reciprocidade e reconhecimento. Essa pandemia tem separado, mas tem unido também, muitos casais. ”

ESCUTA AQUI

AGNI SANTORO indicou:

– Livro “A Criação do Patriarcado: História da Opressão das Mulheres”, de Gerda Lerner (Editora Cultrix):

A Criação do Patriarcado explora cerca de 2.600 anos de história humana e as culturas do Antigo Oriente Próximo, para nos mostrar em um dos mais originais estudos dos últimos tempos, a origem da opressão das mulheres perpetrada pelos homens. Valendo-se de dados históricos, literários, arqueológicos e artísticos, Gerda Lerner refaz o traçado evolutivo das principais ideias, símbolos e metáforas graças às quais as relações de gênero patriarcais foram incorporadas à nossa civilização, sustentando que a dominação da mulher pelo homem é produto de um desenvolvimento histórico. Não é “natural” ou biológica e, portanto, imutável, de modo que o Patriarcado como sistema de organização da sociedade pode ser abolido por processos históricos. Gerda Lerner propõe uma nova e surpreendente teoria de classe, revelando as diferentes maneiras pelas quais as classes são estruturadas e vivenciadas de forma diferente por homens e mulheres.

– Livro “Guia Ecofeminista: Mulheres, Direito, Ecologia”, de Vanessa Lemgruber (Editora Ape’Ku):

Guia Ecofeminista – Mulheres, Direito, Ecologia propõe um vasto panorama sobre obras literárias e acadêmicas, fazendo um trabalho arqueológico de sistematização do pensamento ecofeminista de forma inovadora. Na caótica realidade pós-moderna ambientalmente insustentável, a escrita impactante de Vanessa Lemgruber é o diferencial para despertar a curiosidade e aprofundamento no tema. Na constante busca do devir mulher em suas relações com a natureza, o caminho se releva na retomada da ancestralidade em prospecção do futuro. Coerente com a postura ética da autora, esta edição prioriza a escrita com substantivos e adjetivos na forma feminina.

– Filme “Eu Não Sou um Homem Fácil” (2018), de Éléonore Pourriat:

O machista Damien acorda em um mundo onde as mulheres e os homens têm seus papéis invertidos na sociedade, e tudo é dominado por mulheres. Ele entra em conflito com La Coach, uma poderosa escritora. Disponível Netflix.

PAULO AZEVEDO indicou:

– Documentário “Carta Para Além dos Muros” (2019), de André Canto:

Esse é o primeiro documentário que refaz a cronologia do vírus e da doença no brasil. O diretor André Canto mostra o que mudou na abordagem desse problema desde 1982, quando o primeiro caso em solo brasileiro foi oficialmente diagnosticado. Toda a história vem permeada pelos depoimentos de um jovem brasileiro infectado pelo HIV. Seu nome verdadeiro não é revelado: no filme, ele foi chamado de Caio, em homenagem ao escritor Caio Fernando Abreu, que morreu por causa da aids em 1996, meses antes da chegada de uma nova geração de medicamentos antirretrovirais que revolucionaram o tratamento. Disponível na Netflix.

Aqui vale trazer alguns dados presentes no filme: o boletim epidemiológico divulgado recentemente pelo ministério da saúde indica que, em 2018, foram notificados 37 200 novos casos de aids e 43 mil infecções por HIV no brasil. Atenção: aids e HIV não são sinônimos. Embora ainda seja impossível remover o vírus do organismo, se uma pessoa receber tratamento adequado desde cedo, provavelmente não vai desenvolver a síndrome da imunodeficiência humana adquirida, ou aids na sigla em inglês.

Em dez anos, a taxa de mortalidade pela doença caiu de 5,8 para 4,4 pessoas a cada 100 mil no Brasil. No entanto, o ministério estima que 135 mil brasileiros vivem com o vírus, mas não sabem. Isso seria explicado tanto pela falta de conhecimento das formas de prevenção como pelo medo ou preconceito de fazer o exame — que é rápido e disponibilizado gratuitamente pelo SUS.

– Série “Sex Education” (2021) – 3ª temporada, criada por Laurie Nunn:

A terceira temporada de “Sex Education” se consagra, mais uma vez, como uma das melhores e mais interessantes produções da netflix. A trama que, como o próprio nome diz, aborda o sexo sem tabus, gira em torno de personagens adolescentes que estão descobrindo a sexualidade e sendo educados em relação à sexualidade, ficando cada vez mais curiosos em conhecer os próprios corpos e entendendo cada questão que envolve o sexo — inclusive vivendo na prática a propagação de doenças. E já conquistou o público por trazer questões extremamente importantes para os dias atuais. A terceira temporada mostra essa questão na prática, quando a escola moordale ganha uma nova diretora. Ela não se mostra apenas uma pessoa careta, mas conservadora e preconceituosa, fazendo com que os alunos suportem suas ordens por pouco tempo.

Um dos desenvolvimentos de personagens mais interessantes de toda a trama é de adam, que deixou de ser uma pessoa irritante para se tornar um jovem adorável que está permitindo, pela primeira vez na vida, ter sentimentos bons e manifestá-los. Parte desse amadurecimento se deve ao incrível personagem eric, com quem adam começa a namorar e que o ajuda a despertar a sua verdadeira identidade. A série mexe com os sentimentos de quem está assistindo enquanto aqueles jovens, e também os adultos, estão se descobrindo entre erros e acertos, ou seja, apenas vivendo. Trazendo questões de amizade, romance, trauma, sexo e identidade, os novos episódios acertam mais uma vez em contar histórias profundas e que trazem identificação. Disponível na Netflix.

– Minissérie “Cenas de Casamento” (2021), remake criado por Hagai Levi:

Na série, um casal em crise expõe, em diálogos lancinantes, as dores de uma união aparentemente feliz. O programa em cinco episódios é uma releitura de “cenas de um casamento”, série sobre os meandros da vida a dois criada em 1973 pelo sueco Ingmar Bergman (1918-2007). A trama buscar sondar não só um casamento em declínio, mas a complexa teia de sentimentos, expectativas e obrigações que conecta um casal — às vezes, não rompida nem mesmo pelo divórcio.

No remake, que se desdobra ao longo de cinco anos em Boston, os personagens ganham mais camadas, e toques de modernidade. O marido exibe fragilidade e resquícios da educação repressora de judeu ortodoxo. A esposa, imersa no trabalho, carrega a culpa de não ser uma mãe presente, e a repulsa pela estagnação: ao contrário de Jonathan, é mira quem despreza a zona de conforto. Ela o trai — e ele é quem desabrocha em seguida. A série nos lembra que nem tudo é o que parece na rotina do casal. A felicidade só dura até que a vida os separe. Disponível no HBO MAX.

almasculina é feito por:

Idealização, roteiro, edição e apresentação: Paulo Azevedo (@pauloazevedooficial).

Trilha sonora original e mixagem: Conrado Goys (@conza01).

Identidade visual e arte: Glaura Santos (@glaurasantos).

Fotos: Vitor Vieira (@vitorvieirafotografia).

Realização: Comcultura (www.comcultura.com.br).

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